Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007

2007 - ANO MIGUEL TORGA

DA MEMÓRIA … JOSÉ LANÇA-COELHO

 

ROBERT  FITZROY

 

            A Charles Darwin encontra-se ligada, muito justamente, a teoria do evolucionismo das espécies, teoria esta, a que a maioria das religiões opõe a teoria criacionista, isto é, o Homem não seria o produto duma evolução de espécies animais, mas, o fruto da criação de um Ser Supremo que as diversas religiões designam por Deus.

            Por este primeiro parágrafo, não se julgue que iremos entrar por uma discussão filosófica acerca da origem da espécie humana. Vamos sim, falar de um personagem, que se encontra profundamente ligado às descobertas de Darwin, para além de outras importantes invenções científicas, e que é sistemática e injustamente esquecido, sempre que se fala do cientista que se deslocou, entre outros locais, às ilhas Galápagos, no mítico barco conhecido pelo nome de ‘Beagle’.

            O primeiro comandante do ‘Beagle’ era o capitão Pringle Stokes que, ao suicidar-se com um tiro na boca, transformaria com esse acto de desespero, o conceito científico da evolução das espécies.

            Na verdade, após a morte de Stokes, o Almirantado nomeou um jovem oficial, de nome Robert FitzRoy que, numa primeira viagem estudou as costas sul-americanas, e, na seguinte, pediu a presença de um naturalista. Este, seria Darwin que, embarcou no ‘Beagle’ em Dezembro de 1831 e, deu a volta ao mundo, durante cinco anos.

            Na Terra do Fogo, enquanto Darwin colhe elementos para a sua teoria, FitzRoy procede a medições sobre a força do vento. Por outro lado, enquanto Darwin se afasta da sua ideia de ser clérigo e esboça a teoria moderna da evolução, o capitão FitzRoy homem crente e admirado pela sua tripulação, reforça a sua ideia de um Deus criador.

            FritzRoy leva para Inglaterra, habitantes da Terra do Fogo, com a intenção de educá-los, que, posteriormente, foram devolvidos à sua terra.

            Durante os cinco anos que dura a viagem do ‘Beagle’, são apaixonantes os diálogos que ambos travam, tendo o Dilúvio Universal como fundo. FritzRoy não perdoa a Darwin a sua teoria de que “os fenómenos naturais podem ser explicados sem necessidade de recorrer aos agentes sobrenaturais.”.

            No final da viagem, Darwin retira-se para uma mansão no campo, onde durante anos vai estudar os materiais recolhidos, formular a sua teoria da evolução e, explicá-la em diversos livros, como, A Origem das Espécies (1859) e, A Origem do Homem (1871).

            Por seu turno, Robert FitzRoy, primeiro, ocupa um lugar no Parlamento Britânico, depois, torna-se governador da Nova Zelândia, mas, deverá ser sempre relembrado como, o fundador da meteorologia, para além dos seus estudos terem melhorado consideravelmente a navegação.

            Robert FitzRoy acabará por se suicidar, em 1865, com apenas 60 anos.

            O mítico ‘Beagle’ fará uma terceira e derradeira viagem, sendo posteriormente convertido em navio de vigilância e acabando fundeado no rio Roach, embora lhe tenham mudado o nome para ‘WV7’.

 

 

 

 

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Quarta-feira, 12 de Setembro de 2007

...

DIÁRIO IRREGULAR

 

MIGUEL PAÇO D’ARCOS

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 4 de Agosto 07 – Nunca pensei ter alguma coisa em comum com o actual Presidente da República, mas este (des)governo que tem o nome de socialista tem feito tantas leis contra os trabalhadores dos diversos sectores, que me congratulo por ver Cavaco Silva vetar a Lei de Imprensa aprovada pela maioria e, cujos maiores perigos passavam pelas condições de quebra do sigilo profissional e pelas sanções aplicadas aos jornalistas. A liberdade de expressão é fundamental à Democracia e quem ainda não interiorizou este simples conceito, não merece ser governo.

            O Primeiro-ministro confessou desconhecer a demissão compulsiva da directora do Museu de Arte Antiga. Era bom que abrisse os olhos para saber o que anda a desgovernar.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 8 de Agosto 07 – Estou-me nas tintas, literalmente, para a crise do BCP e respectivas guerrilhas internas que opõem J. Gonçalves a P.T. Pinto. Resolvam isso, se quiserem, com a vossa água benta.

            Partidos políticos receberam dinheiro vivo para as suas campanhas eleitorais às legislativas de 2005, quando eles próprios votaram na Assembleia um diploma contra esta acção. Vivemos na Democracia da contradição e, quem mais se contradiz, melhores resultados. É fartar vilanagem!

            O ‘Diário de Notícias’ de hoje traz o retrato robot dum ‘boy’ do PS, que não deixa de ser igual aos dos outros partidos, rotulando-o de “laico, republicano, socialista e costista desde pequenino”. O último adjectivo refere-se ao seu seguidismo que tem demonstrado por António Costa, desde que foi seu assessor no primeiro governo Guterres (1995). Rapazinhos, o que está a dar é a política! Abram bem os olhos e estudem este retrato robot, só têm a aprender e a lucrar. Nós cá estamos para pagar impostos para sustentar a vossa boa ‘vidinha’.

            A Rússia parece esquecer-se que a URSS terminou e que a Geórgia, com quem faz fronteira, hoje governada pelo pró-ocidental Mikhail Saakachvili, deixou de ser um seu pau mandado, desde 13 de Março de 1991, data em que referendou a sua independência. Muitas têm sido as acções russas contra a Geórgia, a última foi a invasão do espaço aéreo por aviões ‘S-24’ com o disparo de um míssil, verificada ontem. É difícil os senhores esquecerem que perderam as suas regalias e quem foram os seus servos forçados.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 11 de Agosto de 07 – O grande ditador cubano Fidel de Castro delegou o seu poder no mano Raul, e o regime teve ‘uma evolução na continuidade’, semelhante à que conhecemos em Portugal durante o fascismo, Salazar – Caetano. Coincidente com esta imobilidade, o regime libertou o dissidente Francisco Chaviano Gonzáles, de 53 anos, ex-professor de matemática e presidente do Conselho de Direitos Cívicos de Cuba. Condenado a 15 anos de prisão pela ‘divulgação de segredos de Estado e falsificação de documentos’, saiu ao fim de 13 anos, 3 meses e 3 dias de inferno, em que nos primeiros tempos esteve no isolamento, sem receber os seus familiares e em que foi espancado frequentemente pelos guardas. A libertação coincide com o aparecimento de um tumor no pulmão de crescimento acelerado e da obstrução das artérias coronárias e cardiopatia isquémica. É esta a misericórdia revolucionária castrista. Acrescente-se ainda que, no primeiro semestre deste ano, o número de presos políticos em Cuba diminuiu! de 283 para 246. Menos 37, registe-se. Já que estamos em marés de registos e de números, aqui fica outra informação assaz curiosa – a região espanhola da Extremadura abriu 101 cursos de português que abrangem 9 mil alunos, desde a primária ao superior, passando pelo ensino profissional. Estes números têm por base, do lado português, a necessidade de diariamente  procurarem do outro lado da fronteira, serviços que não encontram na sua região, como idas ao médico, para além da poupança que significa ir ao supermercado e encher o depósito do automóvel; do lado espanhol, para além de um crescente comércio, uma grande curiosidade pela cultura portuguesa.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 12 de Agosto de 07 – À minha maneira, fui solidário com Xanana Gusmão e com a resistência timorense, quando os Indonésios assassinaram e torturaram o povo inocente de Timor-Leste. Cheguei a pôr uma camisola branca com a cara de Xanana na varanda, flutuando ao vento de liberdade que, vindo do glorioso dia do 25 de Abril de 1974, ainda existia nesse tempo em Portugal. Entretanto, a força da razão venceu e colocou Xanana na Presidência de uma nova república. Agora, o seu mandato chegou ao fim e, o mesmo Xanana foi eleito primeiro-ministro. Porém, como o Homem é igual em todas as latitudes, leio desgraçadamente, condoidamente, que no dia 10 do corrente, cem jovens timorenses participaram no ataque a um orfanato, destruindo as suas instalações e violando várias crianças, incluindo uma de 12 anos. Para quem como eu, desesperou com a trágica situação dos timorenses, vê-los agora a matarem-se uns aos outros, quando já têm o seu país e a sua independência, dá vontade de não acreditar mais, nunca mais, na humanidade. E esta notícia, chega-me no dia em que se comemora o 1º centenário do nascimento de Miguel Torga, o Poeta mais alto que o país teve nos últimos tempos, tempos de repressão e de assassínio, que ele combateu por todos os meios, o que lhe custou a prisão, a censura e a apreensão de livros. O Poeta-solidário de antes quebrar que torcer, não teve representação governamental nas comemorações desta efeméride, de certeza, porque este governo tecnocrata, neoliberal, sabe bem que Torga o criticaria pelas medidas antidemocráticas que têm tomado contra o povo português. A este propósito, e entre os muitos escabrosos exemplos que se poderiam citar, vejam-se as infelizes e energúmenas declarações do actual ministro da Saúde que, “vê sinais positivos nas listas de espera” para cirurgias. É pena que o ministro e os seus familiares não sejam um dos 208,6 mil cidadãos, que todos os dias esperam angustiadamente por uma operação que lhes salve a vida, enquanto os políticos desbaratam o dinheiro que nos sugam com a imoralidade dos impostos que nos obrigam a pagar. Talvez que assim o ministro não vislumbrasse qualquer sinal positivo. Por favor, ministro, não goze com as necessidades do povo que o elegeu.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 14 de Agosto de 07 – Hoje só posso render as minhas sinceras homenagens ao Rui Costa. O Benfica acaba de vencer o Copenhaga por 2-1, com dois fabulosos golos do “Maestro”. Obrigado, por mais uma alegria, grande RUI!

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 16 de Agosto de 07 – Os jornais de hoje dizem que o homem mais rico do país, Belmiro de Azevedo, duplicou a sua fortuna de 1 milhão de euros para 2 milhões, só no ano passado. Não espanta, se levarmos em linha de conta que um dos seus muitos supermercados, situado em Loures, ontem, feriado nacional, não encerrou às 13 horas, como manda a lei em vigor, mas sim às 20. O referido estabelecimento fica agora sujeito a uma multa que vai até 25 mil euros, que se chegar a efectivar-se, coisa que duvido, não trará qualquer prejuízo ao patrão que, nas 7 horas que fez a mais, deve ter facturado, pelo menos, o dobro disso. Não dobrou ele um milhão de euros, só num ano?! O mais importante da questão, será saber se os trabalhadores da referida superfície comercial receberam as horas que trabalharam a mais e, além disso, pagas a dobrar, como preconizam as tabelas salariais para essas situações. Será que o senhor dobra, também se preocupou em dobrar os salários aos seus trabalhadores?

 

Monte do Carrascal, 17 de Agosto de 07 – Hoje no ‘DN’ vêm duas notícias, no mínimo surpreendentes. Assim, regista-se que, na p. 9, a jornalista Fernanda Câncio na sua coluna escreve um artigo intitulado “Ó DA GUARDA QUE EU TAMBÉM ‘DESINFORMEI’ NA WIKIPÉDIA”, onde informa que descobriu na Wikipédia um artigo sobre si cheio de inverdades. Para enfrentar isto, diz a articulista que, qualquer cidadão, « Tem três hipóteses: a) encolhe os ombros e repete “é a vida”; b) decide colocar um processo judicial aos responsáveis; c) procura apagar ou corrigir a entrada em causa.». Ora, a jornalista optou pelo expresso na última alínea, tendo sido, como ela escreve, acusada de “censora, vândala, uma inimiga da liberdade de expressão”.

            Mais adiante, nas pp. 42-43, surge outra notícia relativa à wikipedia, intitulada “Governo mudou perfil ‘online’ de Sócrates”, onde se escreve em subtítulo, primeiro, que “O Governo assume que melhorou o perfil sobre o primeiro-ministro” e, depois, “Assessor nega que Sócrates tenha dado instruções”.

            O texto da p. 9 apelando para a indignação de uma pessoa que se vê caluniada e que, tentando repor a verdade, é acusada de inimiga da liberdade de expressão, prepara-nos para as alterações enunciadas nas pp. 42-43, como se essas transformações tivessem a mesma matriz enunciada na p. 9, o que não é de todo verdadeiro. Deitando água na fervura, aparece uma caixa intitulada “O QUE FOI APAGADO”, que tem como subtítulo “O blogue Zero de Conduta detectou o que chamou de ‘censura’ na versão inglesa da enciclopédia ‘online’ “, de onde tiramos os seguintes extractos: “(…) O alegado grau universitário do primeiro-ministro português está sob forte discussão pública e nos media. Um caso forte tem sido construído sobre possíveis falsas declarações do primeiro-ministro quanto à sua licenciatura.”, “(…) Os documentos alegadamente  provam que passou sete disciplinas em cujas aulas não participou.”, “Completou um MBA com uma nota de 12, num máximo de 20 [foi apagada a nota].”, “Passou brevemente pelo Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.”

Assim se faz um trabalho de desinformação e intoxicação da opinião pública. Estamos aqui, estamos como na China, onde o Poder controla a Internet e quem lá pode entrar. Por favor, chega de chinesices!, para não dizer, em bom português, de vigarices!

 

 

PISCINA EM KIT

 

O MEU OÁSIS,

A MINHA CONSCIENTE MIRAGEM

AQUI NO ALENTEJO,

TEM 5 METROS E MEIO DE DIÂMETRO,

DÁ PARA 3 BRAÇADAS DE UMA PAREDE À OUTRA,

E QUALQUER FUNCIONÁRIO PÚBLICO,

POR MAIS PERSEGUIDO QUE TENHA SIDO O SEU SECTOR,

PELO ACTUAL GOVERNO,

PODE COMPRAR.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 19 de Agosto 07 – A revolta das pipocas, era o título adequado a uma acção trágico-cómica levada a cabo por um grupo ecologista, que recebe subsídios do Estado, para atacar as sementeiras de indefesos agricultores, também subsidiados pelo mesmo Estado, de milho transgénico, produto legalizado em Portugal, desde 2005. Embora haja prós:

 (a semente deste milho contém um gene resistente às pragas, as larvas nomeadas por ‘brocas do milho’; se obtêm, em termos médios, maiores rendimentos das colheitas e se reduz a imprevisibilidade; e, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar considera que, utilizando o milho MON 863 é improvável reacções adversas na saúde humana e animal e ao meio ambiente no contexto do seu uso proposto)

 e contras:

(os transgénicos resistem aos herbicidas o que pode trazer o aparecimento de superpragas e ao desaparecimento ecológico, proveniente da contaminação do solo e dos lençóis de água; as consequências negativas das novas variante só poderão ser percebidass daqui a muito tempo, entre elas, prevê-se o empobrecimento da biodiversidade, afectando negativamente o equilíbrio ecológico e a segurança alimentar; e, de acordo com o Greenpeace o consumo pode relacionar-se com o aumento de alergias e resistência aos antibióticos)

 relativas à sementeira de transgénicos,

 a área de cultivo quase quadruplicou entre 2006 e 2007, sendo o Alentejo, a região onde os agricultores mais aderiram a este tipo de cultura, com 2400 hectares.

            O que é verdadeiramente hipócrita:

é um grupo ecologista, subsidiado pelo actual Governo, e escoltado pela GNR, atacar um pequeno proprietário de milho transgénico, subsidiado pelo mesmo Governo.

            Conclusão: afinal isto não é a República das Bananas, sejamos exigentes, mas sim, o Desgoverno do milho transgénico!

 

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 22 de Agosto 07 – A corrupção e as mordomias são tantas neste pobre país pobre (a repetição é deliberada), que quase se ergueu uma estátua a cinco administradores do Hospital Pedro Hispano, de Matosinhos, que renunciaram a ter carro de serviço, e com a importância destinada às viaturas, 175 mil euros, adquiriram equipamento necessário à unidade de neurocirurgia.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 30 de Agosto 07 – Que país é este, onde o Governo compra dez helicópteros para combater os incêndios de Verão, mas os aparelhos só podem começar a voar em Novembro? Ardessem as casas dos políticos, que logo veríamos os helicópteros no ar, logo no início do Verão. Paradigmático, é o caso que envolve a casa de campo, em Sintra, do actual presidente da Câmara de Lisboa, a cuja piscina, os aviões que combatiam o fogo na serra de Sintra, foram buscar água, não fosse o diabo tecê-las…

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 2 de Setembro 07 – As notícias dizem que 45.000 professores ficaram sem emprego. A ministra da deseducação argumenta que a baixa natalidade é a principal culpada deste evento. Mas o que mais me preocupa é o que ouço na televisão – cerca de cem professores do 10º escalão, o último, o meu, que dou aulas há 33 anos, perderam o lugar nas escolas onde eram efectivos, por estarem destacados em outras, mais próximas da sua residência. Entretanto, o ministério acabou com os seus lugares nas suas escolas de origem e, também, fechou a vaga que ocupavam na escola mais próxima da sua residência. Ao fim de trinta e muitos anos de abnegação, entrega, fracos ordenados, stresse, estarem longe da família às semanas, vêem-se sem emprego na recta final da profissão que escolheram ou para a qual foram empurrados pelas contingências do desgoverno em que vivemos. Não tenho palavras para semelhante injustiça!

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 3 de Setembro 07 – Este país, de dia para dia, vai ficando cada vez mais inconcebível. Hoje, soube-se que uma professora com cancro na língua, depois de lutar contra a mesma doença na mama e no útero, foi duas vezes á Junta Médica para conseguir a reforma, e de nenhuma das vezes, os médicos que a observaram, tiveram a misericórdia necessária para a dispensar do pesado e desgastante serviço lectivo. As ordens a que os discípulos de Hipócrates têm de obedecer, vêm de quem faz da língua, o principal instrumento para singrar na vida, para enganar os outros, para chegar aos fins sem olhar aos meios.

 

 

CARNAXIDE, 4 de Setembro 07 – Passei a tarde e a noite, no meu escritório, embrenhado nos meus papéis – recortes de vários jornais e revistas sobre escritores e livros. Até agora contabilizei 2.086 entradas, atenção que não são recortes, mas sim entradas. Portanto, tenho recenseados, pelo menos o triplo de recortes, se atribuir, benevolamente, três recortes por entrada, o que dá, no mínimo, mais de 6.000 recortes. E perante tanta papelada, levei o tempo todo, das 15 à 1h do dia 5, a lembrar-me do sentido de uma frase de Almada Negreiros que, embora não a recordando na totalidade, o sentido é o seguinte – «entrei numa biblioteca e, perante toda aquela vasta multidão de livros, pensei que teria de haver um outro modo de um homem se salvar, sem ter que ler aquilo tudo». Também eu, olhando esta profusão de recortes, me pergunto para que me servem tantas biografias e recensões de livros. Embora não o queira, tenho que cair em mim. Para que me serve tanta informação? A verdade, porém, é que não consigo parar esta colecção que comecei na minha adolescência.

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Terça-feira, 11 de Setembro de 2007

2007 - ANO MIGUEL TORGA

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

BACK TO 60’S

 

            Fiz uma viagem no tempo, ‘Back to 60’s’, e voltei aos anos 60 do século XX.

            Dei um salto a Liverpool, em cuja cidade, se comemorava a ‘Semana Beatles’, isto é, a homenagem que a cidade inglesa presta anualmente aos seus quatro filhos mais célebres.

            Logo que desci no ‘John Lennon Airport’, vi o leader dos Beatles representado numa estátua de bronze, e pude ler uma das frases-chave do seu poema ‘Imagine’ - «Above us only the sky» (‘Acima de nós apenas o céu’).

            Esta  ‘Semana Beatles’ continua a atrair milhares de fãs  e dezenas de bandas de todo o mundo, especialistas em tocar as músicas ‘sagradas’, que constituem o reportório do melhor grupo da música pop-rock de todos os tempos.

            Ainda com a formação inicial, de que não fazia parte o baterista Ringo Starr, e com George Harrison, apenas a actuar de tarde, pois como tinha menos de 18 anos, não lhe era permitido tocar à noite, os Beatles começaram a tocar em Hamburgo, no dia 17 de Agosto, (paradoxalmente, o dia do meu aniversário), de 1960.

            Só em 1962, voltaram a Liverpool, já com Ringo na bateria. Começaram então a actuar num clube nocturno chamado ‘The Cavern’ que, embora, infelizmente, ainda exista, não é a casa original, uma vez que, apesar dos inúmeros fãs do grupo – o antigo primeiro-ministro, Harold Wilson, era um deles - terem feito uma subscrição para o conservarem, ele foi destruído, para nesse local ser construído um respirador para o metropolitano, que nunca chegou a ver a luz do dia.

            Foi no  ‘Cavern’ e em outros clubes semelhantes que pude ouvir grande parte das músicas dos Beatles, tocadas por bandas com nomes como, ‘The Yellow Submorons’, ‘Instant Karma’, ‘Band on the Run’, que remetem para títulos de canções dos ‘Fab Four’ quando tocavam juntos e, depois, individualmente. Relembre-se que, ‘Instant Karma’ era de Lennon e, ‘Band on the Run’ de McCartney.

            Já que falo de Paul McCartney, aproveito para frisar a ligação que este continua a ter à cidade, uma vez que,  patrocina o ‘LIPA’ (Liverpool Institute for the Perfoming Arts), uma escola semelhante ao que vimos na série americana ‘Fame’. A este propósito, recordei um episódio curioso da história dos Beatles – na escola de música em que Lennon e McCartney  estudaram, estavam proibidos pelo director de tocar rock and roll, porém, faziam-no sempre que queriam, mentindo ao director, dizendo que se tratava de ‘blues’.

            Ao ouvir as bandas que imitavam os Beatles, senti-me nos anos 60, porém, a ilusão foi ainda maior quando fiz o circuito beatleano de Liverpool -, denominado ‘Magical Mistery Tour’, baseado num disco dos ‘Fab Four’ com o mesmo título, - dentro dum autocarro amarelo denominado ‘Yellow Submarine’ (uma das músicas do fabuloso álbum ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’. Viajei também num autocarro mais pequeno, que me levou às casas de Lennon e McCartney, onde viveram e criaram as primeiras canções. Aqui, ouvem-se as vozes dos familiares, recordando os dias anteriores ao êxito ‘Love Me Do’. Quem se desloca a Liverpool deve ainda visitar ‘The Beatles’story, em Albert Dock, uma reconstrução de diferentes espaços relacionados com o grupo, desde a loja em que compravam os seus instrumentos até ao salão em que Lennon tocava o seu piano branco, agora comprado em leilão por Geoge Michael e oferecido ao museu dos Beatles.

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Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007

TAUROMAQUIA

DA  MEMÓRIA … JOSÉ LANÇA-COELHO

 

 SESSENTA ANOS  SEM  MANOLETE

 

      Fui despertado para a tourada – essa manifestação cultural bem portuguesa e, que por isso mesmo, não se pode erradicar de um momento para o outro como alguns pretendem, mas apenas quando a sua matriz cultural perder a força que a anima – pelo meu pai que, nos seus tempos de juventude, era um verdadeiro aficionado, indo à vizinha Espanha, ver corridas de touros.

            Na verdade, foi ele que me chamou a atenção, nas transmissões televisivas a preto e branco de quinta à noite, - tinha eu os meus 10 anos -, para o modo como o mestre João Branco Núncio metia a cauda dos seus cavalos entre os chifres – não podia dizer cornos diante dele, era um vocábulo que lhe soava a palavrão - dos touros, levando-os para onde queria e fazendo deles o que desejava. E foi também ele que me falou dos duelos que o citado ‘Califa de Alcácer’ tinha com Simão da Veiga, das pegas de caras, dos pares de bandarilhas e do toureiro a pé, de quem hoje evoco os 60 anos sobre a sua morte, Manolete.

            O meu pai falava-me de Manolete como se ele fosse um herói, coisa de que eu desconfiava, pois só a ele o ouvia falar do matador. Um dia, num livro de Álvaro Guerra, - teria sido num dos que constitui A Trilogia dos Cafés?-, o autor fala do dia em que Manolete morreu, como se fosse um dos dias mais catastróficos da Humanidade, superior a um sismo, uma guerra, sei lá, um terrível desastre ecológico - problema com que nos começámos todos a preocupar agora que já temos as barbas a arder -, e então, percebi que o matador espanhol era um dos símbolos mais fortes da geração do meu pai que, saída do posguerra  necessitava de mitos para se afirmar.

            Sempre que falava em Manolete, meu pai referia um episódio hilariante, que se relacionava com a saída de Portugal em 1947, de onde se podia levar apenas, uma certa importância de pesetas – Salazar não queria que se fosse esbanjar dinheiro para fora do ‘seu’ país. As pesetas a mais que o meu pai levava, e os dois amigos que o acompanhavam, passaram a fronteira escondidas no forro do chapéu que, por esta época, todos os homens usavam. O que me provocava o riso era o facto do funcionário da fronteira portuguesa, revistar os três amigos para evitar a saída de divisas do país, tendo na sua frente, o dito chapéu recheado de pesetas, e o proprietário daquela peça de vestuário, entretanto, caída em desuso, fingir que se esquecia da mesma, mostrando ao escrupuloso funcionário, como tudo estava dentro dos trâmites legais instituídos pelo Estado Novo. Depois, meu pai falava que vira Manolete, em Badajoz, na sua penúltima, e brilhante, tourada antes da morte, ocorrida dias depois, em Linares (Jaén), na praça de Santa Margarida, a 28 de Agosto de 1947, colhido por um miura negro de nome ‘Islero’ que, aquando do sorteio da manhã havia saído ao seu colega, Gitanillo de Triana. Porém, como o que havia saído a Manolete era um touro pequeno, o matador fez questão de o trocar pelo saído a Gitanillo, para que o público não julgasse que o matador se furtava a uma ‘faena’ pesada. Aliás, o profissionalismo de Manolete era evidente, quer toureasse na praça do lugar mais recôndito, quer em ‘Las Ventas’.

            Curioso, é também o facto de, nestas férias madrilenas, me ter deslocado a uma antiga aldeia de nome Chichon, que mais parece um topónimo chinês, onde o poderoso Filipe II assistia a touradas na ‘Plaza Mayor’ e, no restaurante onde almocei, forrado de cartazes antigos, ter descoberto o que anunciava a corrida onde Manolete, com apenas 30 anos, seria colhido mortalmente. Nessa tarde fatídica de 28 de Agosto de 1947, Manolete, ombreou com o já citado Gitanillo de Triana, testemunha da sua alternativa a 2 de Julho de 1939, e com Luís Miguel Dominguín.

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2007 - ANO MIGUEL TORGA

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

2007 – “GUERNICA” NO ANO MIGUEL TORGA

 

            A 12 de Agosto de 1907, nasceu em S. Martinho de Anta, o cidadão Adolfo Correia da Rocha, médico com a especialidade de otorrinolaringologista que, renasceu para o mundo literário com o pseudónimo de Miguel Torga. Comemora-se, portanto, agora o 1º centenário do seu nascimento com uma série de iniciativas, que, embora sendo poucas para o vulto que se pretende homenagear, são alguma coisa num país que, tem por mau hábito, deixar passar em claro, estas efemérides respeitantes aos seus maiores valores.

            Para quem ainda não conhece Torga, duas ou três ideias chegam para definir este génio:

1 – embora se orgulhe de ser português, define-se como um ibérico, sentindo a teluricidade da Península, isto é, o chamamento da terra, como um todo, daí que, tenha ido buscar o primeiro nome do seu pseudónimo, a três vultos peninsulares mas também universais, Miguel Molina, Miguel Cervantes e Miguel Unamuno; Torga é o nome de uma planta existente no seu Reino Maravilhoso que, resiste aos agrestes Invernos e aos escaldantes Verões, tal como o poeta foi um resistente durante toda a sua existência;

2 – algumas das suas melhores obras, o Diário, a Criação do Mundo, Bichos, foram alvo da hipócrita censura  salazarista, o que valeu ainda a prisão ao poeta nos cárceres fascistas da tenebrosa PIDE;

3 – a sua vasta obra saiu em ‘edição de autor’ para, não só não prejudicar economicamente um editor que, por via dos aparelhos da ditadura, veria os seus livros apreendidos, mas também, para as obras saírem mais baratas, possibilitando assim um maior  número de leitores (No início da sua carreira literária, Torga chegou a não almoçar, para com esse dinheiro pagar à tipografia os livros que mandava imprimir).

            Escritas estas palavras de apresentação de um dos meus poetas preferidos, explico agora o título deste escrito, que relaciona o imortal quadro de Picasso com o ano da comemoração do 1º centenário do nascimento de um dos maiores escritores portugueses meu contemporâneo.

            Chegado de Madrid e arredores, onde passei dez dias de ‘férias culturais’, dirigi-         -me à papelaria mais próxima do meu monte que fica a 14 km, distância que, aqui no Alentejo, é como ir ao fundo da rua e voltar, onde tinha reservado um dos três ‘JL’ (Jornal de Letras) que recebe quinzenalmente, para comprar o nº especial dedicado a Torga. Num dos artigos sobre o poeta, o seu amigo Valentim Marques, director da gráfica onde Torga imprimia, revela que, o agora homenageado, o convidou para ir com ele à capital espanhola, para ver “Guernica”, que na altura se encontrava num pequeno edifício por trás do museu do Prado. “Guernica” é um quadro de grandes dimensões, pintado por Picasso a preto e branco, onde o universal pintor espanhol, denuncia as barbaridades franquistas ocorridas durante a Guerra Civil (1936-39), através de símbolos  que apresenta numa linguagem cubista. Por tudo o que significa, um esteta como Torga, e um humanista que, em A Criação do Mundo, condena esta guerra, e todas as outras, não podia deixar de ver esta obra universal, executada por outro grande vulto da humanidade.

            Como eu compreendo a intenção de Torga, agora que acabo de observar “Guernica” ao vivo, em Madrid, no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, onde o quadro que denuncia os assassínios fascistas, é vigiado permanentemente por dois guardas, ao mesmo tempo que, um cordão mantém os visitantes a dez metros, para que não haja tentativas de branquear a História. Apesar da distância, a grandiosidade do quadro (349,3x776,6cm) não sofre qualquer prejuízo estético, uma vez que as suas grandes dimensões aliadas ao simbolismo da representação, esmagam, no bom sentido, o visitante. A acompanhar o quadro, estão patentes os esboços iniciais de Picasso, e uma exposição de fotografias sobre a Guerra Civil, tiradas entre as hostes republicanas, por Robert Capa e Juan Pardo, que Torga, decerto, gostaria de ter observado, ele que conheceu a Espanha após o massacre, como relata desassombradamente em A Criação do Mundo, obra apreendida pela censura salazarista.

publicado por cempalavras às 00:29
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