Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2009

TEIXEIRA DE PASCOAES POR LEONARDO COIMBRA

 

DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
 
UM TEXTO DE LEONARDO COIMBRA COM CEM ANOS
 
            O texto que se segue é da autoria do filósofo Leonardo Coimbra (1883-1936), foi publicado no nº16 da Ilustração Portuguesa, (p. 3) de 14 de Fevereiro de 1909, há precisamente cem anos, e refere-se a Teixeira de Pascoaes (1877-1952).
O texto intitula-se O Poeta Teixeira de Pascoaes e começa assim: “Nesta época amoral, de grosseiro materialismo e leviandade, destaca a figura acentuada de Teixeira de Pascoaes. O Poeta não vai desfibrar o Universo e revelar-nos a sua estrutura ou a sua significação intrínseca. Não esperemos dele uma fórmula intelectual do mundo; ele possui a verdade na riqueza maravilhosa da sua consciência. Na sua alma sensível e generosa, o Universo veio confiar os seus segredos, abrigar as suas saudades e as suas esperanças.”
            Acerca da filosofia que emerge dos poemas de Pascoaes, o autor do Criacionismo escreve: “A sua poesia supõe uma filosofia, não a procura; traduz na palavra ritmada a exuberância da sua vida interior. Por isso, ela é a imagem fiel da vida; daí, a frescura, a bondade, a saúde, a fluidez sonhadora, vaga, dos seus versos.”
            De seguida, fundador da ‘Renascença Portuguesa’ relaciona a ciência com a vida, para chegar à poesia: “A ciência anula a criação, mutila a vida, dispersa, fragmenta, reduz a categorias teóricas. A vida permanece, evolui, quebra os símbolos e, senhora da ciência, ajusta-a de novo ao real. A poesia é o impulso do ser, sentido, vivido no ritmo do indivíduo. Dionisios criando Apolo.” Para depois perguntar:”Quem há aí que não tenha alguma vez sentido o contacto perfeito da sua vida com a criação?” Respondendo: “Quantas vezes na primavera, perdidos, alheados no meio do campo, o ouvido perto do tronco que carreia o sangue para a flor, esquecidos, recebendo em pleno rosto as lufadas genésicas da criação que trabalha; sentimos de repente o espasmo da vida, e o nosso eu desvairadamente arrastado na corrente impetuosa do Ser, ouve-lhe as pulsações do seu imenso coração e o seu murmúrio criador dizer: «para além, para o sonho, para o porvir».”
            Relativamente ao modo como Teófilo Braga (1843-1924) classifica a poesia de Pascoaes, Leonardo riposta: “ «Melancolia de provinciano» dizem-me ter chamado o snr. Teófilo Braga à poesia de Teixeira Pascoaes. Melancolia, sim. Mas a melancolia do encarcerado do homem que quer ir a Deus; nostalgia sideral, saudade do seu espírito luminoso pelo éter irmão. Ouvir a voz do vento, sentir o arfar convulso do oceano imenso, tentar a noite côncava e negra, ver o astro que brilha e a flor que abre radiosa as suas pétalas de luz, os beijos do luar e o silêncio penetrante e angustiado do céu longínquo; com todo o sonho disperso, com toda a dor, com todos os destroços do Ideal vencido encher o coração humano e traduzi-lo comovido e deslumbrado, é melancolia sim; mas melancolia religiosa, metafísica, fora do alcance dos que propositadamente se fizeram imunes contra tal doença.”
            Concluindo, Leonardo Coimbra enuncia finalmente o livro de Pascoaes a que se refere. Ouçamo-lo, pois:”O último livro de Teixeira de Pascoaes, A Senhora da Noite, é um poema místico e pagão; onde, como sempre, o poeta procura pela espiritualidade vivificar a matéria, integrando-a na universal aspiração redentora. Suaves, puros, virginais são seus amorosíssimos versos.”
publicado por cempalavras às 22:43
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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

 

DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
 
“O FISICO PRODIGIOSO” E QUANDO O INTELECTO NÃO SUPERA O FÍSICO
 
            A novela, O Físico Prodigioso, que foi publicada pela 1ª vez em 1966, em Novas Andanças do Demónio, lê-se de um fôlego e, logo desde o início se percebe que se trata de um texto de iniciação no erotismo. Refere-se que, a única pessoa que poderá salvar a castelã, é um fidalgo, filho de rei, que possua três características, ser mui formoso, grande físico, e virgem, e em cujo sangue a mulher se deverá banhar. No que refere ao erotismo, são muitos os exemplos que poderíamos apresentar, porém, note-se, por exemplo, a utilização da lança como símbolo fálico.
            É também de salientar a utilização na estrutura da narrativa de dois textos paralelos, semelhantes na problemática abordada, mas com elementos e finais completamente diferenciados.
            Por outro lado, é de referir o mérito do autor em construir uma narrativa extremamente diferenciada da fonte que lhe serviu de ponto de partida para a escrita do texto em análise, o que põe em destaque a sua fértil imaginação ao serviço de um texto que se quer valorizar, atribuindo-lhe novos elementos narrativos.
            A utilização do barrete, que torna o personagem invisível, é, também, um recurso ou categoria narrativa extremamente importante, pelo que permite fazer ao tempo da acção, avançando ou recuando, e anulando definitivamente todos os acontecimentos ocorridos anteriormente.
            No final do texto o autor faz um contundente ataque, através da poesia, a todas as estruturas sociais. Assim, partindo daquilo a que se convencionou chamar, a simbologia do Trono (“Morra o rei e morra o conde,”), pp.136-7, e do Altar (“Morra o bispo e morra o papa,”), ataca o rei, a nobreza e o clero, porém, não se detém neste ponto, atacando os detentores do dinheiro, a Burguesia comercial e os usurários, aqueles que emprestam dinheiro a juro (“morra quem compra e quem vende, / maila toda a usurária./”). Na linguagem utilizada no poema, só o povo tem o respeito do autor (“Morra tudo, minha gente, / vivam povo e rebeldia. /”) .
            Em termos sintéticos, isto é o que se pode dizer de O Físico Prodigioso de Jorge de Sena. Porém, deste autor, há um facto na sua biografia (2-11-1919 / 4-6-1978) que é desconhecido ou pouco explicável, trata-se da sua expulsão da marinha de guerra.
            Sena era filho de um 1º oficial da marinha mercante, que durante quarenta anos trabalhou na Companhia Colonial de Navegação, onde comandou diversos navios, até que, em 1934, um acidente, lhe roubou uma perna, afastando-o do serviço.
            Sena sempre nutriu grande afeição pelo mar, não só pela influência que o pai desempenhou nele, como também pela sua proximidade teórica (com 10 anos leu A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, e, no ano seguinte, A Ilha Misteriosa, ambos da autoria de Júlio Verne, oferecidos, respectivamente, pela avó e pela mãe) e prática com o mar, (passava as férias grandes com um tio em Oeiras, e com outros familiares na Figueira da Foz. Este amor levou-o a, depois de terminar o curso do liceu, com média de18 valores, assim distribuídos, 19 em Álgebra Superior-Geometria Analítica, 17 em Química Geral e, 18 em Física Geral, a fazer o exame de aptidão à Faculdade de Ciências e a inscrever-se nos preparatórios para a Escola Naval. Entrou nesta instituição em 1937, depois de ter passado nas provas de aptidão física, onde sobressaem um passeio de 4 metros efectuado numa viga colocada a 4 metros do chão, uma subida de um cabo vertical, também de 4 metros, saltos e provas de natação.
            Assim, a 1 de Outubro de 1937 saía do cais de Alcântara, o navio-escola ‘Sagres’, com mais de 200 homens, entre os quais se incluíam 18 cadetes, 14 da Marinha e 4 da Administração Naval, que faziam a sua viagem de instrução marítima, que à época era de 5 meses e se fazia logo após a entrada na Escola Naval. Devido às suas notas académicas, Sena era o primeiro cadete do seu curso, porém, a dura e difícil vida a bordo, com provas perigosas, castigos e dificuldades de comunicação e inserção no grupo, levou-o a claudicar. Ao fim de 4 meses, depois dos cadetes terem que nadar num mar cheio de tubarões, o 1º tenente-instrutor informou Sena e outros 3 camaradas que iria propor a sua exclusão da Marinha, o que se consumou por portaria de 14 de Março de 1938, embora as razões de tal atitude nunca fossem compreendidas por Sena, tanto mais que constavam de relatórios confidenciais.
            Testemunhos dos muitos que com Sena privaram, apontam a sua falta de destreza e os seus muitos medos, como por exemplo, que nunca conseguiu subir aos mastros mais do que 6 ou 7 metros, sem as suas pernas começarem a tremer como varas verdes. Deste modo, nada valeu ao cadete Jorge de Sena ser admitido na Escola Naval com a melhor média do seu curso, uma vez que o parágrafo único do art.º 5 dizia que a formação “militar e física” dos cadetes seria considerada “em plano não inferior à formação científica e técnica”.
publicado por cempalavras às 22:39
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1968

 

DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
 
REENCONTRO COM “OS CHINCHILAS” 40 ANOS DEPOIS
 
            Quando era adolescente e ouvia alguém dizer que reencontrara alguém ou falar de um acontecimento que se passara há 40 ou 50 anos, fazia-me imensa confusão. Porém, agora, que estou perto dos 60 de idade, isso já não me faz qualquer impressão e, até acho muito natural. Deste modo, o episódio que a seguir recordo, prende-se com essa problemática do tempo que, na opinião do filósofo e escritor Eduardo Lourenço, foi a melhor invenção de Deus, uma vez que marca sem ambiguidades e simultaneamente a caducidade humana e a perenidade deística.
            Em 1964, estava no meu 4º ano (o actual 8º) tive como condiscípulo de turma, um adolescente como eu, de nome Alfredo Azinheira, que passava as aulas a desenhar violas eléctricas que eram autênticos bacalhaus disformes. Enquanto a professora de qualquer disciplina explicava a matéria, o bom do Azinheira, desenhava violas-baixo de 4 cordas, instrumento que ele tocava num afamado grupo de rock português da época que dava pelo prosaico nome de “Os Chinchilas”. Se pensarmos que o meu grupo preferido de todos os tempos era “The Beatles” que, traduzido para português, era “Os Escaravelhos”, a coisa não ia nada mal, pois ambos eram nomes de animais, e, se no celebérrimo grupo de Liverpool, a minha maior “paixão” ia, na época, para Paul McCartney, também viola-baixo, a coisa ia ainda melhor.
            Quatro anos depois, veio viver para junto de minha casa em Paço de Arcos, um rapaz venezuelano, que estudava no Instituto Espanhol, cujo nome, diminutivo, era Pino, e que partilhava comigo duas paixões, a música e o futebol. Assim, depois de alguns jogos, pegou na viola, tocou as músicas que estavam na berra e, confessou que era um dos “Chinchilas”. Falei-lhe no Azinheira, ele achou piada á coincidência de este ter sido meu condiscípulo e convidou-me para o ensaio do grupo, que se realizaria na sua garagem. Nessa tarde, reencontrei o Azinheira (viola-baixo), conheci o Filipe Mendes (viola-solo), o “Chopin” (órgão), o Vítor Mamede (bateria) e, fiquei a saber que o meu vizinho Pino era o viola-ritmo do grupo. Desde esse dia, escusado será dizer que, não me lembra de falhar um ensaio. Além de originais, “Os Chinchilas” tocavam toda a boa música dos anos 60 – Beatles, Stones, Animals, Spencer Davis, etc.,etc.
            O tempo passou e nunca mais vi ninguém de “Os Chinchilas” ao vivo, e digo assim, porque, de tempos a tempos, via alguns na televisão. O Vítor durante anos tocou bateria com o já falecido Thilo Krassman, o Azinheira ganhou um Festival da Canção da RTP e representou o país no anual Festival da Eurovisão, e o Filipe teve um grupo chamado “Heavyband”, e depois tocou nos “Ena pá 2000”.
            Há cerca de um mês, ao fazer ‘zapping’, passei na RTP1 e, no programa da Catarina Furtado, para minha grande surpresa, vejo “Os Chinchilas”, porém, sem as presenças do Azinheira e do Pino. Julguei que se tratava da reunião do grupo, apenas, para o programa, com o objectivo de relembrar os anos 60, embora saiba que actualmente se vive uma onda de revivalismo que tem levado muitas bandas a juntarem-    -se depois de anos afastados, como por exemplo, Led Zepelin, Police, Eagles, etc., e até os portugueses Sheiks.
            O que é verdade, é que a semana passada, também em Paço de Arcos, vejo um carro parar ao lado do meu, de onde saiu uma cara minha conhecida. Perguntei-lhe, “És o Filipe Mendes?”, a resposta foi afirmativa. Depois chegou o Chopin e o Vítor. Os dois primeiros lembravam-se de mim, mas não sabiam donde. Recordei-lhes de onde nos conhecíamos, e eles, não só me disseram que se juntaram de novo, como também,  me convidaram para aparecer nos ensaios.
            “E o Pino, e o Azinheira, o que é feito deles?”, inquiri, pois não os vira no citado programa da RTP1.
            Então, soube, que o Pino vive em Itália, explicou o Chopin, e o Azinheira não souberam dele durante muito tempo, mas, finalmente, parece que o localizaram como habitando em Paço de Arcos, como disse o Vítor.
            Portanto, dentro de pouco tempo, aí teremos “Os Chinchilas” a tocar a boa música dos anos 60!
publicado por cempalavras às 22:32
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