Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2010
DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
ATAQUE AO NAVIO “SANTA MARIA”
A 3 de Fevereiro de 1961, um comando chefiado por Henrique Galvão (Barreiro 4.2.1895-S. Paulo 25.6.1970), capitão do Exército português, preso em 1952 e demitido do exército em 15.3.1958, que conseguiu evadir-se a 15.1.1959, toma o navio “Santa Maria”, propriedade da Companhia Nacional de Navegação, para chamar a atenção do mundo sobre a ditadura que grassava em Portugal.
De acordo com o jornal “Diário de Notícias” deste dia, Henrique Galvão aproximou-se do Recife (Brasil) e terá dito às autoridades brasileiras, “Meto o navio a pique, «ameaçou», se não me autorizarem a entrar no porto para me reabastecer e a partir novamente”.
Ainda de acordo com a mesma fonte de informação, os oficiais das armadas norte-americana e brasileira, não acreditavam que Galvão levasse a cabo a sua ameaça, mas mesmo que o fizesse, o navio levaria a afundar-se cerca de vinte horas, o que seria mais do que o tempo necessário para se proceder ao salvamento de toda a gente.
Logo que o navio foi avistado, pensou-se que se preparava para atracar, com a finalidade de desembarcar os passageiros. Entretanto, o “Santa Maria” aproximava-se cercado por cinco navios de guerra americanos, um contratorpedeiro e uma corveta brasileiros, ao mesmo tempo que um avião o sobrevoava.
Em certo momento, porém, o “Santa Maria” suspendeu a sua marcha e ancorou, no limite das águas territoriais, continuando, no entanto, a ser patrulhado por um navio de guerra brasileiro, enquanto os outros entravam no porto e fundeavam.
A paragem do navio teve como motivo, o facto de Henrique Galvão enviar um telegrama ao presidente da república brasileira, Jânio Quadros, onde lhe pedia que, em troca do desembarque dos passageiros no Recife, que lhe desse garantias de que o navio poderia, depois, voltar a sair do porto.
Dias mais tarde, o “Santa Maria” foi restituído ao Estado português e, o capitão Henrique Galvão obteve asilo político do Brasil, país onde viria a falecer em 1970.
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DIÁRIO DO ESCRITOR
“3 de Fevereiro de 1949 – Estive em Coimbra, a fazer exames. Para eles se entreterem, encomendei-lhes uma redacção sujeita ao tema: «O professor faltou». O resultado só foi desanimador na medida em que eu peço sinceridade. Se é certo que eles gostam de Português e desamam Noções de Comércio, não é menos certo que é quase anormal o rapaz não ficar felicíssimo, quando o professor falta; ora na maioria declararam-se pesarosos, tristes, pensativos, desgostados, aborrecidos. Não desanimo, porém; eles não têm a culpa e com jeitinho levá-los-ei a dizerem com franqueza
Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2010
DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
BERTRAND RUSSELL
O matemático e filósofo inglês Bertrand Russell faleceu em Penrhyndeudracth, a 2 de Fevereiro de 1970.
Russell nasceu em Trelleck, Ravenscroft, a 18 de Maio de 1872. Estudou no Trinity College, de Cambridge, onde foi discípulo do célebre Whitehead, com quem veio a publicar os Principia Mathematica 1910-1913 em três volumes (1948).
Em 1897 publicou An Essay on The Foundations of Geometry, que inicia a sua primeira época de dedicação à ciência, à qual pertencem, entre outras Mathematical Logic as Based on the Theory of Types 1908, e a já citada Principia Mathematica, onde recebe influências dos lógicos matemáticos Peano e Frege e procura fornecer uma fundamentação lógica da matemática.
A partir de 1908, tornou-se membro da célebre Royal Society e, entre 1910 e 1915, foi professor de Lógica e Matemática na Universidade de Cambridge, altura em que conviveu com Ludwig Wittgenstein, e com os principais representantes da filosofia analítica.
Em 1918, durante a Grande Guerra (1914-1918) foi preso pela primeira vez, devido às suas ideias pacifistas, durante seis meses, período que aproveitou para escrever na cadeia, Introduction to Mathematical philosophy 1919. A partir deste momento, começou a publicar ensaios sobre temas como, ética, política e educação, para além de outros.
É também de salientar, a sua contribuição para a defesa do atomismo lógico, filosofia que interpreta o universo como um conjunto de factos atómicos, não analisáveis, que expressam entidades particulares, qualidades de factos, e, relações.
No biénio compreendido entre 1938-1940, leccionou nos Estados Unidos e, dez anos mais tarde, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura (1950).
No início da década de 60, conhece de novo a prisão por motivos políticos. Desta vez, é a sua tenaz oposição à política de armas atómicas seguida pelo Reino Unido que o leva ao cárcere (1961).
Outras obras escritas por Bertrand Russell são:
O Problema da Filosofia 1912, A Análise da Mente 1921, Porque não sou Cristão 1927, An Inquiry into Meaning and Truth 1940, O Impacto da Ciência na Sociedade 1952.
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DIÁRIO DO ESCRITOR
“ (…) estou convencido de que resolvidos os problemas sociais a religião desaparecerá. (…) E pode encontrar exemplos do que disse no passado. No século dezoito, em que as coisas estavam sossegadas, havia muitos livre-pensadores. Pois bem, deu-se a Revolução Francesa e certos aristocratas ingleses chegaram à conclusão de que a liberdade de pensamento levava à guilhotina. Renunciaram a essa liberdade, tornaram-se profundamente religiosos, e surgiu a era vitoriana.”
BERTRAND RUSSELL, A Minha Concepção do Mundo, 1970, p.34.
Segunda-feira, 1 de Fevereiro de 2010
DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
O REGICÍDIO
A 1 de Fevereiro de 1908, em Lisboa, o rei de Portugal, D. Carlos I, foi assassinado, juntamente com o seu filho D. Luís Filipe, príncipe herdeiro do trono.
Nascido em Lisboa, a 28 de Setembro de 1863, filho de D. Luís I e de D. Maria Pia de Sabóia, casado em 1886 com D, Maria Amélia de Orleães, filha dos condes de Paris, e eleito rei de Portugal desde 1889.
A sua personalidade era multifacetada. Assim, como cientista, colaborou em investigações oceanográficas, enquanto que, como pintor, conquistou prémios em competições internacionais com as suas aguarelas e pastéis.
Durante o reinado de D. Carlos I (1889-1908) normalizaram-se as relações com a Inglaterra e reataram-se as relações com o Brasil. Também se pacificaram os territórios ultramarinos, desde a Guiné a Timor, tendo sido notáveis os feitos de armas em Moçambique e Angola.
A política exterior implementada no reinado de D. Carlos I, fez com que Portugal reconquistasse o seu prestígio europeu com as visitas do rei ao estrangeiro, bem como com as vindas ao nosso país de chefes de estado das maiores potências europeias.
A ousadia crescente dos republicanos, dispostos a conquistar o trono português através das armas, provocando campanhas violentíssimas, culminaram no regicídio de D. Carlos.
No dia 1 de Fevereiro de 1908, quando regressava de uma estadia em Vila Viçosa, o rei D. Carlos I, apesar de ter sido avisado que os Republicanos preparavam uma sublevação, insistiu em sair da estação num coche descoberto, fazendo-se acompanhar da família real.
Dois carbonários, Buiça e Costa, aproximaram-se do coche real e disparam, matando o rei e o príncipe à queima-roupa. No entanto, os dois matadores não sobreviveram ao regicídio, tendo sido eliminados pela guarda real.
A D. Carlos I, sucedeu-lhe o seu filho D. Manuel II, que reinaria apenas dois anos, entre 1908 e 1910, já que a 5 de Outubro deste último ano, o regime republicano passaria a vigorar em Portugal.
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DIÁRIO DO ESCRITOR
“A morte de D. Carlos e a inutilização definitiva de João Franco atenuaram muito as paixões pelo natural sentimento de alívio, que geralmente se sentia com a supressão duma tirania tão perigosa; surgia com o novo reinado uma interrogação que o espírito incorrigivelmente messiânico do País formulava na esperança de melhores dias. Teria a tragédia do Terreiro do Paço o mesmo poder de regeneração que em Itália assinalara o período subsequente à morte do rei Humberto?”
JOSÉ RELVAS, Memórias Políticas, Lisboa, 1977, p. 59.