Terça-feira, 29 de Junho de 2010

ALEXANDRE HERCULANO - UM GRANDE PORTUGUÊS

DA MEMÓRIA... JOSÉ LANÇA-COELHO

 

ANTERO E JUNQUEIRO FALAM DE HERCULANO

 

         No ano do 2º centenário do nascimento (1810-2010) de Alexandre Herculano (Lisboa, 28 de Março de 1810-Vale de Lobos, Santarém, 13 de Setembro de 1877), ouçamos o testemunho de dois intelectuais seus contemporâneos.

         Comecemos pelo “Santo Antero”, termo com que Eça de Queirós (Póvoa do Varzim, 25 de Novembro de 1845-Paris, 16 de Agosto de 1900) designava o autor das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos, e vejamos o que Antero de Quental (Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842- id., 11 de Setembro de 1891) diz sobre a morte do introdutor do romance histórico em Portugal –“é mais do que um luto para a literatura, é um verdadeiro luto nacional” – servindo-nos de um artigo que Antero escreveu no nº2 da revista “Os Dois Mundos”, de 30-9-1877, publicada em Paris, entre 1877 e 1881, por Salomão Sáragga, que esteve ligado às célebres “Conferências do Casino”

         Mais adiante, Antero afirma que Herculano é o último representante duma ilustre geração em quem “o forte génio português reverdeceu ainda neste século com uma seiva tardia”, sendo o autor da História de Portugal, “um grande homem (…) representante do génio da sua nação.”

         Quanto à estatura ética do autor de Lendas e Narrativas, Antero de Quental escreve: “Na fisionomia moral de Alexandre Herculano, há certas linhas que fazem lembrar o perfil enérgico e simples dos heróis típicos da nacionalidade portuguesa. Pertencia a essa grande linhagem, que acabou com ele – e o seu século, admirando-o, considerava-o todavia com um certo espanto ininteligente, como se sentisse vagamente que aquele homem pertencia a um mundo extinto, um mundo cujo altivo sentir já ninguém compreendia.”

         O chefe espiritual da “Geração Nova” continua a traçar-nos o retrato de Herculano, relacionando-o com o período histórico em que ambos viveram: “Não nos cabe a nós ser juízes entre um grande homem e uma época, que tantos aclamam gloriosa, enquanto outros persistem em tê-la por mesquinha. A história (…) dará talvez razão, ao mesmo tempo, à época, que não podia ser maior nem melhor do que as circunstâncias a fizeram, e ao homem nobre e sincero, cuja altiva integridade repugnava invencivelmente a que pactuasse com o abaixamento moral dos contemporâneos, embora tal abaixamento lhe parecesse providencial, preferindo a atitude isolada e austera do protesto e as más vontades que ela provoca nos caracteres vulgares, à influência e dominação alcançada pela conivência com as paixões, os desvarios e os vícios da época.” (sublinhado nosso)

         Antero termina a apreciação a Herculano com esta frase que podemos considerar sublime: “Há glórias mais brilhantes e ruidosas: nenhuma pode haver mais pura.”

         Notemos de seguida, como o anti-clerical Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 15 de Setembro de 1850-Lisboa, 7 de Julho de 1923) no popular Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para 1883, define o carácter de Herculano e, como essa mesma maneira de encarar a vida o conduz ao estado que Camões (Lisboa?, c. 1531-id. 10 de Junho de 1580) contempla na frase, “aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”:

“Alexandre Herculano é uma dessas figuras esculturais que, antes de desaparecerem em pó, reaparecem em bronze. Ainda vivo, nos últimos anos, adquirira na penumbra heróica do seu isolamento, como que a imobilidade sagrada de uma estátua. Desde o dia em que, velho leão ensanguentado, se retirou de uma luta sem tréguas que durara quarenta anos, para se ir esconder na benigna e pacificante tranquilidade da natureza, desde esse dia em que para quase todos começa o esquecimento, começou para Alexandre Herculano a projecção gloriosa do seu génio – a imortalidade.”

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ALEXANDRE HERCULANO - UM GRANDE PORTUGUÊS

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

TESTEMUNHOS DE EÇA E GARRETT SOBRE ALEXANDRE HERCULANO

 

         Tendo como pano de fundo o 2º Centenário do nascimento de Alexandre Herculano (1810-2010), julgamos importante divulgar as opiniões dos seus contemporâneos a seu respeito.

         Comecemos, então, por Eça de Queirós (Póvoa do Varzim, 25 de Novembro de 1845-Paris, 16 de Agosto de 1900). Para além de duas passagens, uma em As Farpas, que escreveu de início em parceria com Ramalho Ortigão (Porto, 24 de Outubro de 1836-Lisboa, 27 de Setembro de 1915), e outra na novela Alves & Cª, o nosso cônsul em Paris, dedica-lhe um trecho no seu livro Os Maias.

         João da Ega, alter-ego de Eça, explicando a Afonso da Maia, o motivo pelo qual não deseja publicar livros, diz: «Não vale a pena sr. Afonso da Maia. Neste país, no meio desta prodigiosa imbecilidade nacional, o homem de senso e de gosto deve limitar-se a plantar com cuidado os seus legumes. Olhe o Herculano…».

O velho Afonso, também ele um ‘Herculano’, que se desterrou na Beira, abandonando a vida política activa, depois dum exílio em Inglaterra, responde ironicamente que, nem isso, Ega fazia.

Por seu turno, o neto de Afonso, e colega de Ega, Carlos da Maia reforça a ideia ‘vegetariana’ defendida pelo amigo, afirmando: «A única coisa a fazer em Portugal é plantar legumes, enquanto não há uma revolução que faça subir à superfície alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerra lá no fundo.» E se não encerrar absolutamente nada, Carlos, alvitra que nos demitamos do país e «passemos a ser uma fértil e estúpida província espanhola, e plantemos mais legumes».

O irónico diálogo transcrito, encerra os desejos e as frustrações da geração do próprio Eça, equiparando-a aos revolucionários de 1820, aos vencedores de 1834 e ainda aos intelectuais de 1851, diante da tarefa fundamental de «regenerar» um país tiranizado nas suas mais diversas vertentes.

Alexandre Herculano diante desta hérculea tarefa, ensaiara uma reforma cultural, partindo da investigação das fontes historiográficas, combatendo os mitos, - como o exemplo paradigmático do aparecimento de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques (Guimarães ou Viseu, 1109?-Coimbra, 6 de Dezembro de 1185) antes da batalha de Ourique, o que lhe valeu graves e profundas diatribes com a igreja Católica -, porém, sem o sucesso esperado, refugiara-se em Vale de Lobos, escrevendo e produzindo azeite.

E a geração de Eça, a de 70, a dos conferencistas do Casino amordaçados pelo marquês de Ávila (8 de Março de 1806-3 de Maio de 1881), que tinham feito? «Os Vencidos da Vida», como os próprios se autointitulavam, tinham simplesmente desistido! Jantavam no hotel Bragança, falavam, fumavam charutos, alguns formavam governo ou emprestavam os seus nomes aos ministérios do rei D. Carlos (Lisboa, 28 de Setembro de 1863-id., 1 de Fevereiro de 1908) e, nem sequer, plantavam legumes!

E já que continuamos na flora vegetal, ouçamos o que diz o companheiro de exílio em França e Inglaterra de Herculano, Almeida Garrett (Porto, 4 de Fevereiro de 1799-Lisboa, 9 de Dezembro de 1854), que desenganado da vida política, não da Regeneração, mas do Cabralismo, escreve nas suas Viagens na Minha Terra (1846): «Plantai batatas, ó geração do vapor e do pó de pedra; macadamizai estradas; fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro (…). Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras (…), comprai, vendei, agiotai.»

Por seu turno, Alexandre Herculano garante em 29 de Outubro de 1851, portanto já durante a Regeneração, em artigo não assinado saído em «O País», jornal fundado pelo historiador, que a nossa «história política é uma série de desconchavos, de torpezas, de inépcias, de incoerências indesculpáveis, ligadas contudo por um pensamento constante, o de se enriquecerem os chefes de partido! (…). Hoje achá-los-eis progressistas, amanhã reaccionários; hoje conservadores, amanhã reformadores; olhai porém com atenção e encontrá-los-eis sempre nulos”.

Curioso é o facto, de ter sido em casa de Alexandre Herculano que se preparou a revolução que, encabeçada por Saldanha (1790-1876), daria início ao período da História de Portugal conhecido por «Regeneração» (1851 em diante).

Por outro lado, Herculano recusou a pasta do Reino que lhe foi então proposta, vindo algum tempo depois a situar-se mesmo na oposição à sua nova situação política, ao contrário do seu amigo Almeida Garrett que, aceitou a pasta dos Negócios Estrangeiros (1852).

 

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ALEXANDRE HERCULANO - UM GRANDE PORTUGUÊS

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

1810 – 2010 : 2º CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALEXANDRE HERCULANO

 

 

“ Não tem título honorífico, condecoração ou distinção alguma e espera em Deus que nunca as terá.” – Alexandre Herculano, in jornal A Nação de 22 de Setembro de 1877.

 

[Um homem que] tinha o egoísmo da sua honestidade, da sua virtude.” – Ariosto da Silva.

 

“ (…) algumas leiras próprias, umas botas grosseiras e  um chapéu de Braga [ é tudo o que preciso para ser feliz).” – Alexandre Herculano em confissão ao seu amigo Almeida Garrett.

 

         Se quiséssemos definir Alexandre Herculano, cujo segundo centenário do nascimento se comemora no presente ano de 2010, as frases transcritas acima, cumpririam bem essa finalidade, pois nelas se encontra tudo o que o Homem, de quem iremos de seguida traçar o perfil, desejava para si.

         O cidadão Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nasceu em Lisboa, no Pátio do Gil, Rua de S. Bento, a 28 de Março de 1810, filho de Maria do Carmo de São Boaventura e de Teodoro Cândido de Araújo, recebedor da Junta dos Juros.

         Estuda Humanidades nas aulas dos padres dos oratorianos dos Congregados de São Filipe Néri preparando-se para ingressar na Universidade, o que não sucede devido a cegueira contraída pelo pai, facto que empurra este último para a aposentação no ano de 1827.

         Alexandre Herculano vê-se então forçado a seguir um curso prático de Comércio, onde estuda Diplomática (Paleografia) na Torre do Tombo e línguas, francês, inglês e alemão.

         Entre 1827-1828 manifesta-se já a sua vocação literária, lendo autores românticos, nomeadamente, os alemães Schiller (1759-1805), Burger e Klopstock (1724-1803), e os franceses Lamennais (1782-1854), Casimir Delavigne (1793-1843), Chateaubriand (1768-1848), Lamartine (1790-1869) e Vigny (1797-1863), escrevendo poesia, travando conhecimento com poetas da estatura dum António Feliciano de Castilho (1800-1875) cuja tertúlia frequenta, bem como a Marquesa de Alorna (1750-1839), que homenageará, em 1844, num artigo publicado em O Panorama, onde a consagra como a «Madame de Stael (1766-1817) portuguesa».

         As suas convicções liberais obrigam-no, no ano de 1831, a exilar-se, devido a ter participado na conspiração de 21 de Agosto, - revolta do regimento de Cavalaria 4, em Lisboa -, contra o regime absolutista de D. Miguel (1802-1866). O seu périplo começa por Inglaterra, primeiro em Plymouth, depois em cidades de província como, Stone House e Devonport, deslocando-se depois para França, Normandia (Granville), Bretanha (Rennes, cuja biblioteca Herculano frequenta de manhã à noite).

         No ano seguinte, 1832, vamos encontrá-lo na ilha Terceira, Açores, onde se junta, como soldado raso, ao contingente liberal organizado por D. Pedro (1798-1834) que vem desembarcar no Mindelo, cercando o Porto, em cuja biblioteca pública trabalha, primeiro, sem descurar as suas obrigações militares, e, depois, em 1833, como segundo-bibliotecário, para além de colaborar no Repositório Literário (1834-1835).

         1836 é o ano da Revolução de Setembro, que leva à abolição da «Carta Constitucional», jurada por Herculano, e a consequente reposição da «Constituição de 1822», o que determina que o escritor, fazendo alarde da dignidade que sempre caracterizou a sua existência, se demita do seu cargo e rume a Lisboa, onde publica com extremo êxito A Voz do Profeta (1ª série, 1836; 2ª série, 1837), onde se nota a influência de Lamennais (1782-1854), e que adquire o estatuto de um panfleto político contra a «Revolução Setembrista».

         Actuando como jornalista, funda a revista literária O Panorama (1837), órgão de difusão do primeiro romantismo português e de divulgação dos diversos romantismos europeus, ao mesmo tempo que, dirige o Diário do Governo.

         Dois anos depois, 1839, o segundo marido da rainha portuguesa D. Maria II (1819-1853), D. Fernando de Saxe-Coburgo Gotha (1816-1885), nomeia Herculano bibliotecário-mor das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades. Influenciado por historiadores como Guizot (1787-1874) e Thierry  dedica-se a uma exaustiva pesquisa documental que culminará, em 1842, na publicação das Cartas sobre a História de Portugal na Revista Universal Lisbonense. Este primeiro ensaio originará o volume inicial da sua História de Portugal 1846, que provocará uma violenta polémica com as autoridades clericais, ao negar o aparecimento de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques (1109-1185), antes da batalha de Ourique, além da negação de outras lendas de cariz religioso, e que determinará a produção dos famosos opúsculos Eu e o Clero, e, Solemnia Verba, ambos de 1850.

         A sua História de Portugal publicada entre 1846 e 1853, abrange o período compreendido entre a fundação da nacionalidade e a representação dos municípios nas Cortes, no reinado de D. Afonso III (1210-1279).

         Não nos adiantemos, e voltemos a 1840, para registar a eleição de Herculano como deputado pelo Partido Cartista, cargo que apenas exercerá durante um ano, pois abandona o Parlamento desiludido com a não implementação do seu projecto sobre ensino popular.

         Em 1846, Herculano é eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, instituição de que chegará a ser vice-presidente em 1855. O prestígio do historiador português não cessa de crescer e, assim, tornar-se-á membro da Academia de Turim (1850) e da Academia de História de Madrid (1851).

         Em 1850, opondo-se à ditadura de Costa Cabral (1803-1889), Alexandre Herculano assina um documento em que denuncia a “lei da rolha” no respeitante à liberdade de imprensa. No ano seguinte, dá-se a queda de Cabral, com a consequente Regeneração do marechal Saldanha (1790-1876), e Herculano funda o jornal O País. Dois anos depois, é a vez do aparecimento de um outro órgão de comunicação, também fundado por Herculano, O Português, onde se opõe às ideias do governo de Fontes Pereira de Melo (1819-1887) e Rodrigo da Fonseca Magalhães (1787-1858).

         Meia dúzia de anos depois, 1856, Herculano e outros apaniguados políticos fundam o Partido Progressista Histórico e, no ano seguinte, o historiador ataca com violência a Concordata com a Santa Sé. Entre 1860 e 1865 participa na redacção do 1º Código Civil Português, e propõe o casamento civil ao religioso, provocando nova acesa polémica com o clero, que se encontra coligida na obra de 1866, Estudos sobre o Casamento Civil.

         Fatigado com estas polémicas e desiludido com a vida política, no ano seguinte, retira-se para uma quinta em Vale de Lobos, Azóia, concelho de Santarém, comprada com o dinheiro recebido com a venda dos seus livros. Após o casamento com o grande amor da sua vida, Maria Hermínia Meira, ambos vão viver para o meio da Natureza. Desde cedo, Herculano que, adorava fazer jardinagem, dedica-se então, com grande satisfação à agricultura, em especial à produção de azeite, o melhor do país de acordo com testemunho da época que, comercializa, com a marca «Herculano».

         No seu amado retiro, Herculano não abandona a investigação histórica – continuando a trabalhar nos Portugalie Monumenta Histórica, publica o 1º volume dos Opúsculos (1872) –, nem as polémicas em que é ‘obrigado’ a intervir – a famigerada proibição das «Conferências do Casino» -, bem como a correspondência com os vultos literários e políticos seus contemporâneos.

         Relativamente à obra literária de Alexandre Herculano, comecemos por analisar a sua poesia, género que foi também o primeiro a que se dedicou, limitada ao período da sua juventude, ao contrário do seu amigo Almeida Garrett (1799-1854), exprimindo um nacionalismo que fundamenta o seu conceito de realismo. Aliás, já que falámos em Garrett, este é o momento ideal para afirmar, sem qualquer dúvida, que, Herculano e Garrett são os introdutores do Romantismo em Portugal.

         A narrativa dramática caracteriza quase toda a obra poética de Alexandre Herculano, o que o empurra para a grandiloquência a que são alheios o conteúdo conceptual bem como a originalidade de imagens.

         Outra importante característica da poética de Herculano é a oposição entre o campo e a cidade, merecendo-lhe o primeiro, os maiores elogios e, o segundo, as críticas mais negativas. Esta dualidade de carácter moralista encontramo-la, também, na prosa, embora aqui, ela surja com uma notável originalidade no respeitante à adjectivação, como se pode constatar na obra, Eurico, o Presbítero, 1844, com a qual Herculano funda o romance histórico português, seguindo as pegadas do escocês Walter Scott (1771-1832), a que se seguirão dentro do mesmo género literário, O Monge de Cister, 1848; Lendas e Narrativas, 1851; o Bobo, 1843.

         Para além da enorme e rigorosa pesquisa histórica, Herculano denota uma consciência romântica, que terá em Antero de Quental o seu expoente máximo.

         São as seguintes, as obras principais de Alexandre Herculano:

 

POESIA:

A Voz do Profeta, 1836; A Harpa do Crente, 1838; Poesias, 1850.

 

FICÇÃO:

Eurico, o Presbítero, romance, 1844; O Monge de Cister, romance, 1848; Lendas e Narrativas, 1851; O Bobo, romance, 1878; O Pároco da Aldeia, O Galego, novelas, 1973.

 

HISTÓRIA:

História de Portugal, 1846-1853; História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1854-1859.

 

TEXTOS DIVERSOS:

Estudos sobre o Casamento Civil, 1866; Opúsculos, 1873-1876.

 

CORRESPONDÊNCIA:

Cartas, 1911-1914; Cartas Inéditas de Alexandre Herculano, 1944; Cartas de Vale de Lobos, 1980-1981.

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Segunda-feira, 28 de Junho de 2010

NA MORTE DE JOSÉ SARAMAGO

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

EU E SARAMAGO

 

         O título deste escrito parece pretensioso, porém, não é essa a minha intenção, mas sim, contar os diversos episódios que constituem a relação estabelecida entre mim e o grande escritor agora desaparecido.

         Comecei a ler a obra de Saramago (1922-2010) pelo Memorial do Convento (1982) e, apesar, de não estar habituado àquela escrita sem vírgulas, entrei no tipo inovador da narrativa do escritor. Pouco depois, li Levantado do Chão (1980), livro passado no Alentejo anterior ao 25 de Abril de 1974, e este livro agarrou-me extraordinariamente, uma vez que, muitos dos detalhes descritos acerca da luta dos assalariados rurais por um pouco mais de pão, coincidiam com as verídicas histórias bejenses contadas pelo meu pai, natural da capital do Baixo Alentejo, sobre o sofrimento do povo que, encostado à parede, como escravo medieval, esperava ser escolhido para trabalhar de sol a sol, durante as épocas da sementeira e colheita dos cereais, nas herdades dos poderosos, que o afrontava do alto dos seus possantes garanhões.

         Seguiram-se outros livros que li com muito agrado como, Deste Mundo e do Outro (1971) – que contém a inesquecível e, talvez a mais bonita crónica da Literatura sobre o amor maternal, quando um menino na escola explica à professora que, no seu desenho, tanto as nuvens como os flocos de neve eram negros, porque tinham sido desenhados no dia em que lhe morrera a mãe -,  O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) – sempre o imortal génio de Fernando Pessoa, desta vez retratado num dos mais conhecidos dos seus setenta e sete heterónimos-, A Jangada de Pedra (1986) – a Península Ibérica separou-se da Europa e procura um caminho comum para os dois países que a constituem, Portugal e Espanha -, História do Cerco de Lisboa (1989) – onde um revisor tipográfico, ao rever um livro com o mesmo título, troca um sim por um não, concedendo uma dimensão histórica e social completamente diversa ao livro que tratava -, O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) – um homem, o próprio Jesus Cristo, que, como todos os seus semelhantes, tinha uma vida sexual com a sua mulher Maria Madalena, e que levará Saramago a exilar-se em Lazarote por, hipocritamente, o Secretário de Estado da Cultura da época não autorizar este livro a concorrer a um prémio internacional, por, na opinião de Sua Excelência, o político, ele ofender a tradição católica do povo português (uma polémica com os mesmos contornos como a que se registou o ano passado quando da saída do derradeiro livro de Saramago, Caim (2009).

         Deixem-me agora falar um pouco de mim, para se ver como me relaciono com Saramago. Em 1998, publiquei o meu sétimo livro a que chamei 366 Dias da Vida da Humanidade e que tinha como principal objectivo, comemorar diariamente, na minha aula de Português, (e noutras), uma efeméride relativa a um vulto da História humana, escritor, pintor, músico, etc., o seu nascimento, morte, atribuição dum prémio ou outra circunstância, que aumentasse a débil cultura geral dos alunos. Assim, no dia 8 de Outubro de 1998, ao entrar em casa, depois de uma extenuante manhã de aulas, a minha mulher anunciou-me que, Saramago acabava de ganhar o Prémio Nobel da Literatura atribuído anualmente pela Academia Sueca. Fiquei extremamente satisfeito, tanto como português, como homem de Letras, e fui imediatamente à tipografia, onde o livro citado acima estava em provas, substituir o escritor que homenageava neste dia, por o nome do segundo português que ganhava tão importante prémio (o primeiro fora, como se sabe, Egas Moniz que, em 1949, ganhara o Nobel da Medicina, e que tivera a censura do salazarismo por não ser uma ‘persona grata’ ao Estado Novo, tanto mais que fora embaixador e defensor da Iª República).

         Mas, a minha relação com Saramago não fica por aqui. Nos anos seguintes, continuei a ler os seus livros mais importantes como, dois volumes dos cinco diários que constituem os Cadernos de Lazarote (1994), Ensaio sobre a Cegueira (1996), Todos os Nomes (1997), O Conto da Ilha Desconhecida (1997) – livro oferecido por um aluno, a quem consegui transmitir o bichinho da leitura -, A Caverna (2000). Até que, em 2001, escrevi uma biografia de José Saramago, para que os alunos conhecessem a vida do escritor, a que chamei O Caso do Estranho Náufrago, jogando com o facto de Saramago se ter exilado na ilha de Lazarote. Meses depois do livro sair, aconselhado por um amigo, Miguel Real, que, também já escrevera um livro sobre a obra de Saramago, acabei por mandar o meu livro para Lazarote, para a morada do nobelizado, que me foi dada pela colega de escrita e de magistério, Ana Maria Magalhães. Passaram-se quatro meses, e quando eu já pensava que não haveria resposta à minha missiva, ela chegou, dactilografada, e assinada pela mão do escritor. Saramago agradecia-me o livro e, como o meu endereço é Carnaxide, confessava que anos atrás, quando os prédios altos ainda não se tinham expandido, andara muito por aqui, e também em Linda-a-Velha, em bailes populares. Claro que guardo esta carta entre os mais preciosos documentos do meu espólio! À alegria de receber a carta, juntei meses depois, a felicidade de ver o meu livro, via Net, entre os títulos que constituem a biblioteca da Fundação José Saramago no núcleo de Lazarote.

         Em 2004, saiu Ensaio sobre a Lucidez, critica política às democracias, onde, todos os eleitores votam em branco, quando chamados às urnas. Saramago lançou este livro na antiga Feira das Indústrias à Junqueira, local onde me desloquei para o ouvir e (veleidade de um idealista) para falar com ele. Compareceram milhares de pessoas e, as minhas intenções goraram-se. Porém, meses depois, Saramago, que fez uma enorme campanha de lançamento do livro, deslocou-se à biblioteca de Beja, que tem o seu nome. Disse para mim mesmo, “na cidade de nascimento do meu pai, é que vou falar com ele!”. Quando o escritor entrou, já eu lá estava, sentado na primeira fila, e como a palestra ainda demorava, levantei-me, dirigi-me a ele de carta na mão e perguntei-lhe, “Conhece isto?”. Saramago agarrou-a, passou-lhe os olhos e, laconicamente, respondeu-me, “Sim”. Como não me disse mais nada, refugiando-se num mutismo com que era costume defender-se, fiquei completamente desarmado e apenas tive voz para dizer: “Sou a pessoa que escrevi o livro. Muito prazer”. Ele respondeu, “Muito prazer.” Não dizendo mais nada. E ficou por aqui, a minha relação com o escritor agora desaparecido.

 

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Segunda-feira, 14 de Junho de 2010

RECENSÃO CRITICA DE UM LIVRO

‘MATARAM O SIDÓNIO!’, FRANCISCO MOITA FLORES

 

         Definiria este livro como um policial erudito, passado em 1918, cuja temática é o nunca explicado assassínio do Presidente da República da altura (o indigitado assassino, José Júlio da Costa, não foi o matador e acabou por morrer sem nunca ser julgado), integrado no nascimento das ciências forenses em Portugal, repartindo-se pelos grandes cientistas estrangeiros que acompanham esta revolução e os portugueses contemporâneos que deixaram o seu nome ligado:

a) às várias correntes científicas que despontavam na época, onde se incluem, o personagem principal, Asdrúbal d’Aguiar, e o seu chefe no Instituto de Medicina Legal, e secretário de Estado do Comércio no Governo de Sidónio, Azevedo Neves;

b) à ideologia política da altura, Teófilo, Relvas, Junqueiro;

c) às Artes e Letras, Palmira Bastos, Júlia Florista, e até, o poeta Pessoa, com quem Asdrúbal tem um encontro fortuito no ‘Martinho da Arcada’ e que, por um lado, fala das tendências espirituais da época, como é o espiritismo, aconselhando-o a ler Alan Kardec, e, por outro, servindo-se da sua íntima multiplicação heteronimica diz ao médico legista, “Apareça. Mesmo que eu seja outro, aqui estarei sentado e firme no combate que travo contra o absinto, neste campo de batalha.” (p. 245).

         O enredo do livro resume-se ao seguinte: o médico-legista Asdrúbal d’Aguiar, casado com Glória, é nomeado director interino do Instituto de Medicina Legal, enquanto o seu chefe, o monárquico Azevedo Neves desempenha funções no Governo de Sidónio. O casal tem uma empregada que, morre da terrível influenza (a ‘espanhola’, como a designam vulgarmente), que tem uma bonita filha chamada Ana Rosa. Esta, conhece um jovem de 22 anos, bagageiro na estação do Rossio e que possui uma arma. Glória, a mulher de Asdrúbal, é também uma vítima da gripe. Asdrúbal acaba por se envolver sentimentalmente com Ana Rosa, depois de esta lhe ter contado que o bagageiro do Rossio lhe dissera que a sua arma era para matar Sidónio. Asdrúbal investiga o local do crime e chega a conclusões surpreendentes.

Classificação – 10.

PRÓS- Romance histórico bem conseguido; CONTRAS- Não tem.

 

* José Lança-Coelho (Professor jubilado)

 

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RICARDO REIS - UM HETERONIMO DE FERNANDO PESSOA

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

QUEM ÉS TU RICARDO REIS?

 

         Fernando Pessoa foi o criador de Ricardo Reis, pois trata-se de um dos múltiplos heterónimos desse fabuloso escritor.

         Vejamos, então, como Pessoa define o processo de criação de Ricardo Reis, que terá nascido em 29 de Janeiro de 1914, às 11 horas da noite: “Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, e que ia desenvolvendo. Achei-a bela e calculei interessante se a desenvolvesse segundo princípios que não adopto nem aceito. Ocorreu-me a ideia de a tornar um neoclássico «científico» (…) reagir contra duas correntes – tanto contra o romantismo moderno, como contra o neo-classicismo à Maurras (…)”.

         Mais tarde, no ano da sua morte, na célebre carta de 13-1-1935, a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa fornece dados sobre o nascimento de Ricardo Reis que, não são consentâneos com a informação transcrita acima:

“Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e do mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil, é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mais seco que Alberto Caeiro [sublinhado nosso] . De cara rapada (como os outros), porém, de um vago moreno mate. Educado num colégio de jesuítas, é, como se disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. [A poesia de Reis surge] depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode”.

         A carta de 13-1-1935 relativamente à primeira frase transcrita apresenta, também, grandes divergências no concernente ao nascimento de Ricardo Reis. Vejamos o que aí diz Pessoa a este respeito:

“Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos [sublinhado nosso], mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis)”.

         Com o aparecimento, em Março de 1914, de Alberto Caeiro, foram inventados os discípulos:

         “Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si-mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo, Álvaro de Campos.”

         De frisar, também, no nascimento dos heterónimos, o alheamento assumido por Pessoa na impotência de controlar as ideias de cada uma das personagens que criou:

         “Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critério, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes e como eu não sou nada na matéria.”

         De acordo com as informações de Pessoa, Ricardo Reis terá escrito 35 poemas em Portugal e 89 “no Brasil” – para onde terá ido em 1919 e, onde ainda vivia em 1935 – onde se incluem os 13 não datados e, nestes, os 4 publicados na revista Athena, em 1924.

         Curioso é também o facto de Ricardo Reis não ter produzido qualquer poema, quer em 1919, ano em que imigrou para o Brasil por ser monárquico por convicção política, quer em 1920, quando já tinha imigrado.

         Ricardo Reis, de quem não há indícios que tenha voltado a Portugal – tirando a ficção escrita por José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis – escreveu mais poemas “no Brasil” do que no seu país de origem, de acordo com o pessoano “drama em gente”.

 

Na NET visite o meu blog de Poesia e Prosa
http://cempalavras.blogs.sapo.pt

 

 

 

publicado por cempalavras às 23:19
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CONTO DE JOSÉ LANÇA-COELHO

PESADELO DE 3%

 

         Recebi, ontem, uma notificação, para me apresentar o mais depressa possível nas Finanças, com a finalidade de pagar uma coima extraordinária de mais 3% no IVA.

         Como sabem, o governo aumentou o imposto de valor acrescentado, vulgo IVA, de 1% sobre os produtos que são considerados de primeira e de segunda necessidade

Porém, não informou, nem divulgou, o que me disse a senhora que, simpaticamente, me atendeu nas Finanças, e que passo a explicar:

- Todos os habitantes de Portugal passarão a pagar mais 1% de IVA, quer nos produtos de primeira (6%), como de segunda (21%) necessidade;

- Quando qualquer contribuinte comprar um produto igual a um dos possuídos por um membro do governo, deverá pagar seis vezes mais do que o aumento do imposto agora proposto, portanto 11% nos produtos de primeira qualidade e 26% nos de segunda qualidade;

- Se o contribuinte não comprar, mas sonhar, em adquirir um produto de qualquer tipo que seja posse de um membro do governo, deverá pagar três vezes mais o aumento do imposto agora obrigatório, portanto 8% nos produtos de primeira qualidade e 24% nos de segunda qualidade;

         Portanto, como a coima que me queriam obrigar a pagar era de 3% no IVA, só podia ser relativa a um sonho, e sendo assim, perguntei, como podiam as Finanças ter adivinhado o meu sonho? , se nunca, mas nunca, falara dele a ninguém.

         Foi-me então dito que, - ideia que nunca me passara pela cabeça -, todos os aparelhos de televisão, por mais pequenos que sejam, são providos de uma rara gama de feixes hertzianos que têm a possibilidade de captar os sonhos das pessoas que vivem nas casas onde estão colocados e, ao mesmo tempo, transmiti-los para uma central, onde especialistas os podiam descodificar e analisar (o Big Brother do ‘1984’ de George Orwell, não é ficção científica).

Servindo-se desta inovação tecnológica, as Finanças puderam saber o conteúdo do meu sonho e, lançar o imposto de 3% sobre o valor do produto com que sonhei – um automóvel sport, vermelho, descapotável, que custa à saída do stand 50 mil euros e que, para meu azar, é propriedade de um dos ministros actuais -, portanto, terei de pagar um imposto de 1500 euros, valor superior à minha pensão de reforma de professor efectivo do Ministério da Educação, e que por isso terei de esperar pelo mês de Julho, momento em que espero me paguem em dinheiro o subsídio de férias, sem fruir absolutamente nada do automóvel, exceptuando a emoção que senti ao conduzi-lo, virtualmente.

JÁ NEM SONHAR SE PODE, SEM PAGAR IMPOSTO!

É o que me apetece gritar aos quatro ventos, mas não o faço, porque alguém me disse que há, também, um novo imposto, para quem fale mais alto que os membros do governo e, sinceramente, não quero que me tirem nenhuma parcela do já sacrificado subsídio de Natal que, também vai ser taxado com um imposto.

E todos estes sacrifícios para quê?

Para acabar com a alta taxa de desemprego? Para dar melhores condições de vida a quem trabalha? Para que todos tenham pão para comer e o possam dar aos seus pequenos filhos? Para aumentar a celeridade da Justiça no país? Para os hospitais funcionarem melhor, existindo mais camas e com melhores condições? Para implementar mais educação e instrução (dois campos que sistematicamente se confundem) para o povo?

NÃO! TUDO ISTO É ENCARADO PELO PODER COMO SIMPLES E MESQUINHOS PORMENORES!

O que se torna necessário contemplar são as condições de vida dos ministros, deputados e quejandos, como a substituição dos carros em que se deslocam que já têm mais de um ano de vida, sejam descapotáveis (como aquele com que sonhei) ou não, as ajudas de custo para as viagens que não podem ser feitas senão em classe de executivo, o aumento das despesas de representação, de flores, disto e daquilo, até ao ridículo extremo da edificação de caras salas de fumo para suas excelências se encherem de tabaco, que podiam expelir num dos muitos pátios em que a Assembleia é fértil, como fazem os simples trabalhadores das instituições públicas e privadas que têm esse vício.

No momento seguinte, virei-me para o outro lado e, acordei! Acordei?! Sim, tudo o que até aqui foi dito não passa de um sonho, melhor, de um pesadelo, um pesadelo de 3%. E como Candide, o personagem principal do livro do mesmo nome escrito por Voltaire, saio a correr aos gritos pela rua, exclamando: “VIVEMOS NO MELHOR DOS MUNDOS!”

 

publicado por cempalavras às 23:17
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13 DE JUNHO DE 1888 - NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA

NO 122º ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA

 

JOAQUIM MOURA COSTA SEMI-HETERÓNIMO DESCONHECIDO

 

         Joaquim Moura Costa é um desconhecido semi-heterónimo e um dos revolucionários criados pelo génio multifacetado do grande criador Fernando Pessoa.

         Visou vários alvos, todos manifestações da mesma decadência. As sátiras mais cuidadas visaram os políticos da Monarquia e a Igreja Católica.

         Participou em dois jornais feitos por Pessoa: “O Phosphoro” e “O Iconoclasta”.

         Muitas das suas poesias são altamente pornográficas, não se podendo publicar neste local, como uma dedicada à homossexualidade de Fialho de Almeida, embora Fernando Pessoa a aceitasse e lhe tivesse dado existência no heterónimo Álvaro de Campos.

         Entre os criticados por Joaquim Moura Costa/Fernando Pessoa salienta-se o poeta Augusto Gil, como se pode constatar na poesia que se segue:

 

“Vejo que rimas sem custo” – 30/3/1909

 

Vejo que rimas sem custo

E que o verso que te sabe justo

Sem confusão se interpreta.

P’ra seres poeta, Augusto,

Só te falta ser poeta.

 

         Também os plagiadores não escapam à crítica mordaz deste desconhecido semi-heterónimo a que Pessoa atribuiu o nome de Joaquim Moura Costa, como se vê neste poema escrito um ano antes da implantação da República:

 

“A UM PLAGIARIO” – 7/1/1909

 

Copiaste? Fizeste bem.

Copia mais, sem canceira,

Copia, pilha, retém.

É a única maneira

De não escreveres asneira.

 

         Já que falámos na República, aqui fica a sátira feita por Joaquim Moura Costa à rainha e mulher de D. Carlos, assassinado no Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, juntamente com o príncipe herdeiro Luís Filipe.

 

“A RAINHA D. AMELIA” – 20/4/1910

 

A Rainha D. Amélia

Se não dissesse que arrelia,

Rimava, mal seria

O mais certo é que arrelia.

 

         Também os bajuladores, os situacionistas, os que vergam a cerviz para de qualquer modo conseguirem os seus intentos menos escrupulosos, (como “o Barão/ [que] Beijou ao Ramiro o anel…/”) são ridicularizados até ao extremo, só não se consumando a submissão total (Podia beijar-lhe o rabo/) por ter um nariz grande:

 

 

“BEIJA-MÃO” – sem data

 

Então dizem que o Barão

Que ocupa o lugar cruel

De chefe da situação

Beijou ao Ramiro o anel…

Foi para levar o cabo

Tudo a bem.

Creio que diz.

Foi sinal de submissão

Pois isso fez só que não

Podia beijar-lhe o rabo

Por lho impedir o nariz.

 

         A terminar diga-se que, Joaquim Moura da Costa é um dos setenta e sete heterónimos de Fernando Pessoa até hoje descobertos nos papéis do baú.

 

                                                                         JOSÉ LANÇA-COELHO

 

 

 

 

 

publicado por cempalavras às 23:13
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POEMAS DE JOSÉ LANÇA-COELHO

 



ÁGUA

 

 

Analiso

Os quatro elementos primordiais

Da Natureza

(Água, Terra, Ar e Fogo)

aceites pelos Gregos,

e no âmago da Terra,

- na planície alentejana

que sempre desejei,

onde mergulho e me fundo –

descubro o poder da Água

- o fabuloso líquido amniótico –

onde me renovo e amadureço,

no transparente de uma piscina.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 6 de Junho de 2010.

 

MINHA AMADA NATUREZA

 

O que me fascina

nestes banhos de natureza,

que tomo aqui no Alentejo,

é a ordem natural com

que as coisas são feitas.

 

O feno já está suficientemente

alto, para ser cortado,

só que antes dele, há ainda

tanta coisa para fazer,

como apanhar as batatas,

matar o porco,

sulfatar a vinha,

plantar o arroz.

 

A burra que espere,

que vá comendo a erva

do chão do caminho,

até que as refeições de feno

se possam servir nesta ordem mágica

que tem a minha amada natureza.

Monte do Carrascal, Alentejo, 22 de Maio de 2010

 

 

ADIVINHA COLORIDA

 

 

Qual é coisa,

Qual é ela,

Que é,

Roxo, violeta,

Amarelo, verde,

Branco, azul,

Não é o arco-íris,

Nem uma tela de linho,

Nem a paleta de um pintor,

Nem um livro para pintar,

Ondula como o mar,

Mas não tem água,

Abana com o vento,

Mas não é canavial,

Não é manta de retalhos,

Mas proporciona o melhor sono?

 

É a planície alentejana,

Abençoada pela natureza,

Num dia de Primavera,

Com flores a despontarem

Por tudo o que é lugar.

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 24 de Maio de 2010

 

 

 

 

 

 

 

SE AS FLORES TAMBÉM MORREM…

 

Olhando o jardim fico surpreendido,

De não ver abertas as flores que

ainda ontem, de corpo inteiro,

Aquelas brancas com uma larga corola,

iluminavam de alegria este canteiro.

 

Quem conhece a mágica vida das flores,

Diz-me que o tempo delas já passou,

Que são caducas como os humanos,

Tendo um prazo de vida que se esfumou.

 

Porém, essa caducidade

é apenas um estado,

dentro da perenidade,

a que fui votado.

 

E eu que quando penso na morte,

Só me lembro das pessoas que amo

Sou obrigado a interiorizar que,

Se as flores também morrem…,

Como tudo o que é natural,

Por que não hão-de morrer os humanos?

 

Monte do Carrascal, Alentejo, 25 de Maio de 2010

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por cempalavras às 23:08
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Segunda-feira, 7 de Junho de 2010

POEMAS DE JOSÉ LANÇA-COELHO

MANIF

 

Os filhos do povo

Com livros na mão

Contra

Os filhos do povo

Que usam o bastão,

Vistos pelos burgueses

Que decidem

A quem entregar o pão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÁGUA

 

Analiso

Os quatro elementos primordiais

Da Natureza

(Água, Terra, Ar e Fogo)

aceites pelos Gregos,

e no âmago da Terra,

- na planície alentejana

que sempre desejei,

onde mergulho e me fundo –

descubro o poder da Água

- o fabuloso líquido amniótico –

onde me renovo e amadureço,

no transparente de uma piscina.

 

Monte do Carrascal, 6 de Junho de 2010.

publicado por cempalavras às 00:02
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