Terça-feira, 24 de Agosto de 2010

EDUCAÇÃO

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA PEDAGOGIA PORTUGUESA

 

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

APONTAMENTO DE AGOSTINHO DA SILVA

 

         “ Em edição policopiada que foi distribuída a professores interessados pelo Centro de Formação Educacional Permanente (CEFEPE) saiu, em língua portuguesa, o artigo de Bonnie Barett Stretch sobre o desenvolvimento da chamada Escola Livre, também frequentemente designada pelos nomes de Escola Nova e Escola Comunitária, talvez menos próprios, visto poderem aplicar-se com mais propriedade a outros movimentos de carácter pedagógico.

         Acentuando a sua natureza experimental, marca-lhes nitidamente como filosofia fundamental a de que a liberdade é o bem supremo da pessoa e que o homem, incluindo, naturalmente, a criança, tanto mais se realiza quanto mais livre é, e que só pode dar aborto de gente quem é dirigido, ordenado, manipulado. Por outro lado, e dentro do mesmo critério, não deixa de referir-se ao pensamento de Piaget, o célebre psicólogo de crianças há pouco galardoado com o Prémio Europeu de Cultura, de que brincar é o único assunto sério da infância; ideia que, quanto a nós, ainda deveria ir mais longe; se o trabalho no tempo contado tem sido a base das civilizações, tem sido o jogo, no lazer, o real alicerce das culturas.

         O exame que faz da Escola de Santa Bárbara ou da de Santa Fé, uma na Califórnia outra no Novo México, ou da de Harlem, em Nova Iorque, é sempre objectivo, sem que o entusiasmo o arraste, mas também sem que deixe de mencionar os benefícios e sem que ponha em relevo as lições que dão e o muito proveito que tiram de seu estudo e acompanhamento as Fundações e os serviços oficiais de educação. E conclui, nas palavras de Peter Matin: “Alguém deve dar um passo para além das crianças, deve mover-se para além da sua própria alma; ou dar dois passos para além de seus próprios limites para dentro da paisagem de medo e possibilidades que as crianças habitam.” (Agostinho da Silva, Revista “Vida Mundial”, de 19/V/1972, p. 41)

 

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Segunda-feira, 23 de Agosto de 2010

PARA A HISTÓRIA DA FILOSOFIA PORTUGUESA

COMO CONHECI ANTÓNIO TELMO

 

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

         No ano lectivo de 1978/79 fiz o Estágio Pedagógico, numa escola de Setúbal, para me tornar Professor Efectivo.

         A orientadora de estágio era uma colega embirrante, com poucos escrúpulos, que não fazia o que apregoava, e que pegava por tudo e por nada, com os seis estagiários.

         Um dos meus colegas, havia concorrido para várias cidades do país, onde funcionavam os estágios pedagógicos, e conhecia muito bem dois dos estagiários que, naquele ano, tinham sido colocados em Estremoz, encontrando-se com eles ao domingo.

         Assim, à segunda-feira, ouvíamo-lo a contar o que os colegas de Estremoz diziam da benevolência do seu orientador de estágio, e todos lamentávamos não ter concorrido para aquele cidade, quando, inevitavelmente, o comparávamos com as extravagâncias das exigências da nossa orientadora.

         Entretanto o ano de Estágio Pedagógico terminou, cada um dos seis professores seguiu o seu nobre caminho e, pessoalmente, a única coisa que retive na memória, foi que o tal colega de Estremoz, que era uma pessoa extremamente humana para com os seus estagiários, se chamava António Telmo.

         Alguns anos depois, por aqueles inexplicáveis acasos da vida, conheci dois membros do denominado grupo da Filosofia Portuguesa que, se reuniam em duas pastelarias de Lisboa, à 5º feira à tarde numa da Rua Alexandre Herculano, e ao domingo de manhã, numa outra na Avenida João XXI, a “Munique” se não me falta a memória.

         Álvaro Ribeiro e José Marinho já tinham falecido. Dos nomes mais sonantes que conheci então, faziam parte, António Quadros, Afonso Botelho, Brás Teixeira, e outros, a que a memória já não consegue chegar.

         De entre eles, havia apenas um que não vivia em Lisboa, mas que, por amor à Filosofia ou ao Filosofar, fazia cerca de quatrocentos quilómetros ao domingo, para vir trocar impressões com os seus amigos. É verdade, vinha expressamente de Estremoz e, chamava-se António Telmo.

         Lembra-me que, no dia que me estreei a emitir uma opinião perante tão douta plateia, formulei um juízo acerca da natureza material de Jesus Cristo, considerando-o do ponto de vista material, uma pessoa igual a todos nós, porém, sem negar a divindade da sua natureza espiritual.

         O grupo ouviu-me e, em seguida, alguns dos presentes, sem me contradizer ou/e afrontar, deram a sua opinião. Porém, à saída da pastelaria, o António Telmo aproximou-se de mim e disse:

         “ – Você hoje, já deu um ar da sua graça, ahn!

         Sorri, e cada um foi à sua vida. Encontrámo-nos, posteriormente, algumas vezes naquela pastelaria acerca de tudo e de nada.

         Anos depois, comprei e li com agrado o seu livro História Secreta de Portugal.

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Domingo, 22 de Agosto de 2010

HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

A IMPORTÂNCIA DE FERNANDO PESSOA  NA CULTURA PORTUGUESA

 

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

 

         Na biblioteca que tenho aqui no monte alentejano, vim encontrar, escrito numa agenda, o seguinte texto que, por nunca ter sido publicado, faço-o agora, tendo em vista a importância de Pessoa na Cultura Portuguesa.

A pequena entrevista dada por José Blanco ao J.L. nº 980, onde o investigador pessoano anunciava o seu livro sobre os artigos retirados dos media (jornais e revistas) e, posteriormente, a compra e o manuseamento da sua Pessoana, levou-me a fazer uma investigação sobre as referências a Fernando Pessoa e seus heterónimos no nº 983 do J.L., de que passo a apresentar os resultados.

         Na p. 2, existem duas referências ao poeta da Mensagem , intitulando-se a primeira, ‘120 anos de Pessoa’, relativa às diversas comemorações a realizar na data, 13 de Junho de 2008, em que se comemoram os cento e vinte anos do nascimento do escritor, e a segunda, ‘Cleonice Berardinelli homenageada’, uma investigadora que tem dedicado a sua vida ao poeta dos heterónimos e cujo cinquentenário do seu doutoramento, se comemora a 17 e 18 de Junho, na Universidade estadual do Rio de Janeiro. Atente-se, então, no nome do colóquio, Meio Século em Pessoa, que comportará quatro mesas-redondas, cujos nomes evocam algumas facetas do poeta: Sou um espalhamento de Cacos; Lisboa e Tejo e Tudo; Deus quer, o homem sonha, a obra nasce; Escrevo meu livro à beira-mágoa.

         Na rubrica ‘Destaque’, pp.8-9, dedicada a Bartolomeu Cid Santos (1931-2008), fazem-se duas alusões a Pessoa na introdução ao artigo, a primeira, quando se focam as suas paixões, “a omnipresença de Fernando Pessoa e a poesia”(p.8), e a segunda quando se refere o gosto pela literatura de Cid Santos, “com especial admiração por Álvaro de Campos/Fernando Pessoa”.(p.8). O artigo chama-se ‘Bartolomeu Marinheiro’ e é da autoria de Hélder Macedo. Este, em determinado momento, escreve acerca de Barto, “E fez um retrato de Fernando Pessoa - «Fernando Pessoa Antes de Ser Grande» - como um menino (de nove anos?) com camisa de marujo (emprestada pelo Bartolomeu?)”(p.8), retrato esse que encima a primeira coluna da p.9, onde podemos ver o poeta dos heterónimos pedalando num triciclo.

         Das pp. 16 à 23 desenvolve-se o ‘Tema’ deste nº 983 do J.L. que é dedicado a Vieira da Silva. No artigo «Bicho, entre azul e silêncio» da autoria de Maria Leonor Nunes, há a seguinte referência ao autor d’ O Livro do Desassossego, “Gostava particularmente de poesia. Tinha uma enorme admiração por René Char (…) e também por Pessoa e Sophia, (…)”. (p. 17) O ‘Tema’, além de artigos de diversa índole, reproduz inúmeras cartas inéditas. Numa delas, escrita pelo crítico literário João Gaspar Simões e, endereçada a Vieira e ao seu marido Arpad, surge nova referência ao Poeta, “Vou publicar dentro de alguns meses um volumoso livro – Fernando Pessoa – o homem, a época e a obra – estudo biográfico e crítico sobre o grande poeta e o movimento «modernista» em Portugal.” (p. 20)

         Na p. 24, inicia-se a rubrica ‘Letras’ e, também nela, vamos encontrar referências a Pessoa. A primeira é da autoria de António Carlos Cortez que, em artigo sobre Bénédicte Houart, intitulado «Desacertar palavras», escreve: “Drummond, mas também Pessoa, que a autora também glosa, promovem um discurso sobre a existência, partindo-se da observação de certos aspectos triviais do quotidiano para reinterpretar, à luz duma metafísica pessoana e duma ironia drummondiana, o mundo que irrompe, misterioso” (p. 24) A segunda pertence a Miguel Real que, em «Três tipos de romance histórico», ao analisar o romance Escola de Validos de Maria João Martins, escreve que esta autora, “polvilha a sua narrativa de «à partes» anacrónicos (citações de ou menções a Haendel, Alexandre O’Neill, Fernando Pessoa, Agustina Bessa-Luís …)”.(p. 26)

 

         Na rubrica “Estante”, a propósito do seu livro Já Não Se Escrevem Cartas de Amor, Mário Zambujal, quando lhe perguntam a razão do título do livro, responde:” Quando se escreviam cartas de amor (…) havia um certo romantismo que desapareceu. (…) A certa altura o narrador diz que (…) hoje podemos conhecer a letra de Eça ou de Pessoa, o que nos dá mais um dado sobre eles.” (p. 29)

         Na rubrica “Ideias”, Guilherme D’Oliveira Martins no seu artigo “A sombra de Montaigne” (pp.38-9), onde analisa a obra de Miguel Real, Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa (1949-1997), depois de uma referência à revista Orpheu (p. 38), em que Pessoa e os seus Outros colaboraram, cita explicitamente o poeta dos heterónimos, quando afirma que Real situa o pensamento de Lourenço entre nove balizas do universo cultural e filosófico português, uma das quais leva, “ ao modernismo do Orpheu e à decisiva marca de Sá-Carneiro e de Pessoa”. (p. 39)

         A última referência a Pessoa, no nº 983 do J.L., surge no artigo “Acordo Ortográfico e ambiguidades” da autoria de Fernando Cristóvão, quando este membro da Comissão Negociadora do Acordo afirma que, “( nem Gil Vicente, nem Camões, nem Vieira, nem Camilo, nem Eça, nem Pessoa…) escreveu nesta «intangível» ortografia que, aliás, sucedeu a outras, e teve uma guerrilha semelhante à de 1990.” (p. 40)

         A acompanhar este número do J.L., encontramos o suplemento nº 126, de 4 – 17 de Junho de 2008, do Instituto Camões, onde no artigo “Exposição no Centro Cultural Português do Luxemburgo – Pomar Gráfico”, surge nova referência a Pessoa, quando se escreve que Pomar, “Pintou ainda painéis de azulejo com desenhos de grandes poetas portugueses, como Camões, Bocage, Fernando Pessoa e Almada Negreiros.” (p. 2) Finalmente, no artigo “Parfums de Lisbonne vão ao cinema”, Pessoa é implicitamente tratado quando é referida a revista Orpheu que, como já referimos, foi uma das em que Pessoa colaborou activamente. Assim,  pode ler-se: “O cinema continuará a marcar o evento na sessão La poésie fait son cinema: rimes et sons (Dos poetas de Orpheu à nova poesia portuguesa) (…)”. (p. 2)

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Sábado, 21 de Agosto de 2010

HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

O TRABALHO SEGUNDO AGOSTINHO DA SILVA (II)

 

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

         Na perspectiva do filósofo português Agostinho da Silva, dentro do tema «Trabalho», há que considerar os «Amadores de Coisas», elemento essencial e, assim definido:

 

AMADORES DE COISAS

 

         “ «O senhor o que é que gostaria de ser?», talvez ele dissesse «Ai, eu gosto muito de guiar carros.» Muito bem. Pronto, gosta de guiar carros, estupendo. Então, entra numa classe que temos de aproveitar no mundo futuro, que é a classe dos amadores de coisas. Há uma quantidade de gente que é amadora de fazer aquilo que a nós, por exemplo, custaria. Mas eles gostam… (…) Há sujeitos que não gostam de fazer coisa nenhuma senão de estar a olhar para ma nuvem. Eu considero esses tipos utilíssimos, porque ninguém sabe o que sairá dali. Não se conta aquela história de que a lei da gravitação apareceu por ter caído uma maçã na cabeça de Newton? Não era obrigatório que o Newton estivesse a estudar Matemática na altura em que lhe caiu a maçã na cabeça… podia estar a dormir debaixo da árvore, ou ter acordado naquele momento, ou qualquer coisa assim, eu sei lá! Quem me diz que a um homem, cujo ideal é estar de papo para o ar olhando para as nuvens, de repente, não se lhe atravessa na cabeça uma ideia? Por que é preciso intuir isso, hem? É que há pessoas que julgam que fabricam as ideias com a cabeça. (…) O facto da ideia ser secreta, ele conhece-a, eu não, dá-me a ideia de que ele é que está, realmente, a pensar com a cabeça dele. (…) qualquer sujeito que já fez versos, ou fez Matemática, ou qualquer coisa assim, sabe perfeitamente que de vez em quando a cabeça é atravessada por um verso.” (Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, pp. 16-17.)

 

         Agostinho da Silva afirma aqui, que, não é pelo facto de se estar deitado e olhando o firmamento que, de um momento para o outro, não se possa ter uma ideia genial, facto que pode ser comprovado, por qualquer pessoa que tenha já feito qualquer tentativa de concreto no campo das Letras ou das Ciências.

         Um pouco mais adiante Agostinho da Silva disserta sobre a importância das máquinas para a Humanidade, afirmando que para além delas e da já citada, classe dos amadores, existem as pessoas que estão prontas a sacrificar-se pelos outros, e, o serviço civil.

         Este último item leva-o a falar da reforma. Assim, depois de se questionar sobre o que é um homem reformado, responde do seguinte modo:

 

REFORMADO

 

         “ Quer dizer que esse homem cumpriu um certo número de anos de serviço, civil ou militar. A partir daí é dispensado. Acha-se que já contribuiu o bastante para toda a gente comer – e ele próprio -, de maneira que pode ir para casa e terá de comer. É evidente que se aproveitássemos ao máximo todos os recursos que há hoje, ninguém teria de se reformar aos sessenta ou setenta anos, toda a gente se poderia reformar aos trinta, por exemplo, ou aos quarenta…E muita gente já se reforma. Gente que, por acaso, entrou muito cedo num determinado serviço, ou, noutros casos, lhe contaram em dobro o tempo.” (Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, pp. 20-21)

 

         É curioso o modo como Agostinho da Silva termina o presente escrito, intitulado «Elogio do Ócio» (pp. 15-21), referindo como a anterior situação se aplica a ele próprio. Assim, revela que, quando ainda era professor de liceu, concorreu para Moçambique, sabendo que o tempo de magistério exercido naquela antiga colónia, lhe contaria a dobrar para efeito de reforma:

 

         “ De maneira que ia-me reformar muito cedo, e como havia muita coisa em que pensava e que queria fazer… uma delícia! Porque me libertavam daquela coisa toda de ensinar latim aos meninos, aí aos cinquenta anos, e eu, de acordo!” (Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, p. 21).

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Quarta-feira, 18 de Agosto de 2010

HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

O TRABALHO SEGUNDO AGOSTINHO DA SILVA (I)

 

         Na perspectiva do filósofo português Agostinho da Silva (Porto, 1906-Lisboa, 1994), Portugal deveria passar de país marítimo a país naval, o que, parecendo o mesmo, é significativamente diferente, como se pode inferir da citação seguinte:

 

PAÍS MARÍTIMO/PAÍS NAVAL:

 

“Portugal deve passar de país marítimo a país naval. Não é a mesma coisa. País marítimo, pode ser, por exemplo, estar na praia não fazendo coisa alguma. País naval, ter alguma coisa que fazer, inclusive ter como objectivo não fazer nada. Mas é preciso querer nitidamente não fazer nada, não é abandonar-se ao não fazer nada, é não querer fazer nada mesmo! Ter a profissão de não querer fazer nada. Eu só conheci um homem que tinha essa força, (…)”. (Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, p. 14)

 

         Já imaginaram o que é «ter a profissão de não querer fazer nada»? Pessoalmente nunca conheci ninguém que a exercesse, pelo contrário, Agostinho da Silva afirma ter conhecido uma pessoa assim, que era reformada desde que nasceu, acrescentando que deveríamos criar uma sociedade que permitisse atribuir esse estatuto a qualquer cidadão, o que em plena época de crise económica a nível mundial me faz esboçar um sorriso.

         Por outro lado, é ainda significativo o alerta lançado pelo filósofo, para o perigo de morte que representa a inacção, daí que as duas regras de ouro para a existência, passem por, não trabalhar nunca, mas, pelo contrário, ter sempre uma ocupação. Vejamos, então, o que diz o filósofo a este respeito:

 

TRABALHO:

 

“A alegria, a alegria do sujeito… Tinha-se reformado desde que tinha nascido, que era o que nós todos devíamos fazer, estar sempre reformados à nascença… Temos que pensar numa economia, numa sociedade, em que qualquer tipo seja reformado à nascença. E saiba imediatamente, se puder entender, que quem não faz nada morre depressa. E que, portanto, procure naquilo que é, naquilo que sente do mundo, o que é que gostaria de fazer. As duas leis devem ser: «Não trabalhe nunca; por favor esteja sempre ocupado.» (Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, p. 15)

 

 

(continua)

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Terça-feira, 17 de Agosto de 2010

LIVROS & BANHOS

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

 

LIVROS & BANHOS

 

         Aqui estou no meu monte alentejano, rodeado de sobreiros e oliveiras, passando o Verão. Já não posso dizer as férias, porque, felizmente, reformei-me do ensino há dois anos. Assim, vou consumindo os dias com leitura (muita), escrita (alguma) e banhos de piscina. Ao fim da tarde, quando as temperaturas de quarenta e tal graus se começam a dissipar, ajudo, apressadamente, a minha mulher na rega do jardim e do pomar, pois é a hora dos mosquitos dos arrozais começarem a picar.

         O monte é a minha torre de marfim, retiro espiritual trazido para o universo das Letras pelo filósofo francês Montaigne. Inauguro anualmente a época balnear nos feriados do 25 de Abril ou no 1º de Maio e, depois, sempre que posso, faço duzentos quilómetros para me exilar voluntariamente, entremeando as leituras e a escrita com os banhos semi-quentes, pois a água da piscina é raro o dia que não atinge os 30ºC.

         Desde que me aposentei que, entre outras coisas, comecei a numerar os livros que leio, para, no final do ano, ter a noção exacta da quantidade de livros que li. Assim, sei que, em 2008, li 59 livros e em finais de Agosto, tinha lido 39; em 2009, estes dois números, respectivamente, eram 60 e 41; e, neste Verão de 2010, vou com 35 livros lidos. Claro que, o número de livros lidos depende, entre muitas coisas, da quantidade de páginas de cada um. E depois, há sempre os livros eleitos, aqueles que se demarcam subjectivamente dos outros, de acordo com o gosto e sensibilidade do leitor. Isto para além da releitura de clássicos que são do meu total agrado como, Pessoa, Eça e Torga, entre outros.

         Em 2008, os livros que mais me disseram foram:

“Boa Noite Senhor Soares” de Mário Cláudio; “Os Pilares da Terra” de Ken Follett; “O Jogo do Anjo” de Carlos Ruis Zafon;

em 2009, os eleitos foram “A Ministra” de Miguel Real; “Nove Mil Passos” de Pedro Almeida Vieira, e, “Mão Direita do Diabo” de Denis Mcshade.

         Em 2010, quando estão decorridos oito meses do ano, tenho já como eleitas as seguintes obras:

“Gráfico de Vendas com Orquídea” de Dinis Machado; “Fúria Divina” de José Rodrigues dos Santos; “Carta de Sócrates ao seu vergonhoso amante Alcibíades” de Miguel Real, e, ”Ir à Índia sem Abandonar Portugal” de Agostinho da Silva.

         Permitam-me algumas palavras sobre a razão da minha escolha para o actual ano:

embora o livro de Dinis Machado tenha saído há algum tempo só agora tive oportunidade de o ler, Machado revela-se cada vez mais uma voz sui generis na nossa literatura, quem leu “O que diz Molero” sabe bem a que me refiro;

José Rodrigues dos Santos dá neste seu livro uma dimensão do perigo que a Al-Qaeda e Bin Laden representam para o Ocidente;

a obra de Miguel Real é uma reedição, nele o autor dá-nos um Sócrates com uma dimensão a que não estamos habituados e por isso, surpreendente, privilegiando o físico em troco do racional;

finalmente, Agostinho da Silva é uma revelação com as suas teorias sobre a idade da reforma, para além de outras problemáticas relacionadas com a História e a Literatura portuguesas, onde pontificam Pessoa, Camões, Vieira, Camilo, Sérgio, Magalhães Lima, Sampaio Bruno, Teixeira Rego, Leonardo, Junqueiro, Espinosa, D. Dinis, Infante D. Henrique, D. João II e outros.

 

 

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