DA MEMÓRIA…JOSÉ LANÇA-COELHO
ATAQUE AO NAVIO “SANTA MARIA”
A 3 de Fevereiro de 1961, um comando chefiado por Henrique Galvão (Barreiro 4.2.1895-S. Paulo 25.6.1970), capitão do Exército português, preso em 1952 e demitido do exército em 15.3.1958, que conseguiu evadir-se a 15.1.1959, toma o navio “Santa Maria”, propriedade da Companhia Nacional de Navegação, para chamar a atenção do mundo sobre a ditadura que grassava em Portugal.
De acordo com o jornal “Diário de Notícias” deste dia, Henrique Galvão aproximou-se do Recife (Brasil) e terá dito às autoridades brasileiras, “Meto o navio a pique, «ameaçou», se não me autorizarem a entrar no porto para me reabastecer e a partir novamente”.
Ainda de acordo com a mesma fonte de informação, os oficiais das armadas norte-americana e brasileira, não acreditavam que Galvão levasse a cabo a sua ameaça, mas mesmo que o fizesse, o navio levaria a afundar-se cerca de vinte horas, o que seria mais do que o tempo necessário para se proceder ao salvamento de toda a gente.
Logo que o navio foi avistado, pensou-se que se preparava para atracar, com a finalidade de desembarcar os passageiros. Entretanto, o “Santa Maria” aproximava-se cercado por cinco navios de guerra americanos, um contratorpedeiro e uma corveta brasileiros, ao mesmo tempo que um avião o sobrevoava.
Em certo momento, porém, o “Santa Maria” suspendeu a sua marcha e ancorou, no limite das águas territoriais, continuando, no entanto, a ser patrulhado por um navio de guerra brasileiro, enquanto os outros entravam no porto e fundeavam.
A paragem do navio teve como motivo, o facto de Henrique Galvão enviar um telegrama ao presidente da república brasileira, Jânio Quadros, onde lhe pedia que, em troca do desembarque dos passageiros no Recife, que lhe desse garantias de que o navio poderia, depois, voltar a sair do porto.
Dias mais tarde, o “Santa Maria” foi restituído ao Estado português e, o capitão Henrique Galvão obteve asilo político do Brasil, país onde viria a falecer em 1970.
***
DIÁRIO DO ESCRITOR
“3 de Fevereiro de 1949 – Estive em Coimbra, a fazer exames. Para eles se entreterem, encomendei-lhes uma redacção sujeita ao tema: «O professor faltou». O resultado só foi desanimador na medida em que eu peço sinceridade. Se é certo que eles gostam de Português e desamam Noções de Comércio, não é menos certo que é quase anormal o rapaz não ficar felicíssimo, quando o professor falta; ora na maioria declararam-se pesarosos, tristes, pensativos, desgostados, aborrecidos. Não desanimo, porém; eles não têm a culpa e com jeitinho levá-los-ei a dizerem com franqueza